A CASCA DA CASCA

O poema soa o ritmo cantado pelas palavras do poeta, neste sentido Wilson Guanais mostra sua predileção - ainda que seja característico da A casca de Casca” – pelo recorte pausado de cada substantivo. As palavras separam-se tão abruptamente que o recorte trazido pelo escritor cria novas interpretações para o leitor, além daquela elaborada pela compreensão do poema como um todo. Deste modo, o dia dura; o dia todo; e anoitece; a noite dura...” são versos que unidos aos outros trarão para o leitor a imagem final desperta pela poesia sobre a longa duração de cada etapa da vida, porém não é preciso chegar até o ponto final, que encerrará o poema, para entender que as quebras de linhas trazem prolongamento para cada etapa descrita. O autor mostra uma inclinação à poesia enxuta que encontra no substantivo a força imagética para despertar o inconsciente e trazer ao consciente a interpretação residente nos lados mais adormecidos do homem; porém; em alguns poemas, as palavras são trabalhadas em conjunto, utilizando para isto de predicações, a exemplo do poema intitulado Poema”: o pedaço; de papel; embebido; em algo; que pode; saciar; uma sede; enquanto; incendeia; o instante; Na poesia em questão o autor permite a elaboração mais complexa da ideia pela ligação das palavras que só depois de unidas formarão o contexto desejado. A casca da Casca” é a poesia de cada dia, lida no metrô, lida em qualquer lugar, uma poesia por um dia”, para o poema durar.