Sinopse
O pensamento é inseparável das redes de linguagem e a poesia ainda consiste na crítica e reflexão que a linguagem faz a si mesma, proporcionando vazios, fendas que possibilitam tais movimentos. É partindo dessas considerações que se propõe pensar a poesia de Giorgio Caproni como um arquivo poético, histórico, cultural, produzido por tensões, do qual o esgarçamento da palavra é um sintoma fundamental. Caproni percebe os escuros de seu tempo como algo que lhe indaga a todo instante, que o interpela: Nem ao menos levará / a lanterna. Lá / o breu é tão breu / que não há escuridão. O que desassossega não é aquilo que já se sabe ou se conhece, mas a esfera do vazio, ou nas palavras de Caproni os lugares não jurisdicionais, espaço no qual a razão é colocada à prova, é suspensa e certas fronteiras passam a ser repensadas.O laboratório poético destas páginas é paradoxal e movido pela contínua e incessante busca por uma voz que parece sempre escorregar delineando uma figura que pelos seus gestos poderia se aproximar do arqueólogo ou etnógrafo, que escava, recorda, monta
***A cesura urrada, que está certamente entre as mais extraordinárias invenções métricas do Caproni petroso, assinala o estado de tensão máxima [
] da ofcina poética do melhor fabro da prosódia italiana do século XX.Giorgio AgambenCaproni não coloca em crise apenas a categoria da pessoa, mas também a categoria do tempo, do espaço, daexperiência [
]. Se não se pode mais distinguir entre eu e ele, não se pode distinguir também entre nascimento ou início, por um lado, e destruição ou fim, por outro.Enrico TestaCaproni narrou o horror de um universo concentracionário, o extermínio do sentido.Valerio MagrelliA ideia de poeta-artista se associou na minha cabeça, por um longo tempo, com a identidade poética de Caproni, até que o artista, ou melhor, o artesão foi engolido pelo filólogo e teólogo, determinando nele acredito eu não poucas mudanças e atitudes [
]. Artista concreto, capturado pelo detalhe.Mario Luzi