Sinopse
Há na Antropologia uma indisfarçável vocação de resgate. Perversa ou necessária, ela é uma de suas marcas. Possivelmente cria letrada do colonizador, ela aprendeu afinal a desvelar sentidos da fala do colonizado. No começo, a Antropologia viajou o mundo e substituiu missionários e sábios na busca de povos estranhos e costumes exóticos. Sua missão? Revelar, cientificamente, que o ser estranho e exótico era a essência de uma condição diminuída isto é, ainda não evoluída como a nossa própria do ser humano. Algo semelhante ao que se fez aqui com nossos indígenas, pretos e caipiras. Todos humanos sim, mas a caminho de uma viagem longa que o branco letrado e senhor sempre imagina estar completando.Ao se debruçar não apenas sobre as sociedades tribais, mas também sobre segmentos dos expropriados e desvalidos de nossas próprias sociedades, outras questões inevitavelmente emergiram. Já que não era então possível lidar com uma lógica que rege totalidades de vida e de significação coletiva, mas com lógicas, regras internas de conduta, significados e rituais que expliquem, ao mesmo tempo, a condição subalterna e a resistência à sujeição. Foi então que, ao lado de uma vocação obcecada pela busca da transparência através de uma explicação que toma como ponto de partida o ponto de vista do outro, e faz da diferença entre modos de vida a própria condição do conhecimento comparado de possíveis universais, que fazem ser socialmente viável o que há de humano nos homens, a Antropologia também quer ser uma fala em nome de.