Sinopse
Este estudo procurou, a partir das memórias orais dos índios Xukuru e da pesquisa em registros escritos, discutir as conexões temporais entre as mobilizações indígenas pelas terras, nos anos 1980, e as ocorridas na década de 1950, quando os Xukuru conquistaram o reconhecimento oficial com a implantação de um Posto do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) na Serra do Ororubá, em Pesqueira/PE. Em ambos os períodos, os índios afirmaram seus direitos baseados nas memórias de seus antepassados que receberam as terras como recompensa pela participação na Guerra do Paraguai, em um contexto de disputas pelas terras do oficialmente extinto Aldeamento de Cimbres/Ororubá em fins do século XIX. A pesquisa das memórias possibilitou perceber os elos de uma história coletiva, de um pertencimento em um conjunto de situações e experiências históricas que conferem uma identidade baseada em um espaço ancestral comum. Nos relatos das memórias orais dos Xukuru do Ororubá, é possível perceber outros acontecimentos que expressaram o cotidiano, os espaços e momentos de sociabilidades vivenciados na Serra do Ororubá, o significado de Cimbres como um espaço de referência da memória mítico-religiosa para a afirmação da identidade do grupo, as relações de trabalho com os fazendeiros ou como operários na indústria, em Pesqueira. E ainda nas atividades exercidas para sobrevivência por falta de terras e em razão da seca, na lavoura canavieira na Zona da Mata Sul pernambucana e Norte alagoana ou nas plantações de algodão no Sertão paraibano. São fragmentos colhidos de relatos individuais, de memórias autobiográficas, mas que fazem parte de uma história coletiva. As reflexões aqui apresentadas procuraram evidenciar como os Xukuru do Ororubá, apoiados na memória e na história que compartilham sobre o passado, fazem a releitura de acontecimentos que escolheram como importantes, para afirmar seus direitos enquanto um povo indígena, a partir do vivido, do concebido e do expressado.