HISTÓRIA E PSICANÁLISE

De quantas coisas se faz a realidade.Este livro pode ser lido em mais de um plano: há nele um permanente esforço de teoria, há os apelos à poesia, que surgem entre uma frase e outra como fagulhas esparsas, e há algo que o perpassa em toda a sua extensão, e que poderíamos chamar de testemunho. É deste último plano que parte o ensaio de Clara de Góes: do simples relato de algumas lembranças só suas - algumas traumáticas, mas que foram ganhando com o tempo uma coloração quase lírica -, das quais brotam, para um lado, a poesia, e, para outro, a tentativa de cingi-las como um saber possível de se transmitir que nunca estará inteiramente separado da experiência da autora no mundo, por menos que se lhe faça uma alusão direta.Vemos assim se confrontarem no livro História e a Psicanálise, ofícios que têm exercido a autora ao longo da vida, e cujas presenças em maiúsculas mas dissimulam a história e a psicanálise da experiência única do sujeito-autor. A experiência analítica é o que permite, digamos assim, que as maiúsculas sejam retiradas, após o quê tanto a História quanto a Psicanálise deixarão de ser. Romildo Rêgo Barros