Sinopse
Não é fácil colocar a primeira frase e abrir uma revista como esta, a qual, acreditamos, contém textos tão importantes neste número. Como começar um editorial? O que deveria vir na primeira página de apresentação da revista? Amós Oz, escritor israelense, que recentemente lançou E a história começa, alega ser difícil o início de toda escrita, por isso todos deveriam começar mais ou menos como O inferno, de Dante Alighieri: No meio do caminho da vida, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me embrenhado em selva tenebrosa. E, diante do inferno de começar do nada um editorial, vamos começar pela arte.Com ela, quatro artigos deste número fazem uma interlocução. Daniela Scheinkman-Chatelard retoma o romance O arrebatamento de Lol V. Stein, de Marguerite Duras, para, a partir dele e da homenagem feita por Lacan à romancista, discutir o Outro gozo, parceiro solitário do ser feminino. Também o ensaio de Maria Anita Carneiro Ribeiro, Sexo, Mentiras e Video-tape, análise do filme de mesmo nome, discorre sobre o mistério da feminilidade, para além da lógica fálica. O ser-para-o-sexo, segundo sua visão, é a realidade do inconsciente, mensagem também passada pelo filme de Soderberg. Maria Helena Martinho teoriza a disjunção entre amor e desejo na vida e na obra de André Gide. Tragiorgia, artigo de Antonio Quinet, aborda o apolíneo e o dionisíaco, descritos por Nietzsche, e o conceito lacaniano de gozo, para questionar a criação artística.O autor sustenta que lá onde a vontade de gozo alcança o sujeito do pathos, o entusiasmo surge e, com ele, a potência de criação.