Sinopse
A ambição deste ensaio é mostrar como é possível construir uma «melodia conservadora» contemporânea em torno de conceitos como «imperfeição humana», «pluralismo», «tradição», «reforma» e «sociedade comercial».«Conservadorismo: quando alguém é acusado de sofrer da maleita, não se pretende afirmar que a infeliz criatura adere a um conjunto válido e racional de ideias ou valores que definem uma ideologia política. Ao conservador não se aplica o mesmo tipo de tolerância ética ou epistemológica que se concede ao liberal, ao socialista e até, Deus seja louvado, ao comunista impenitente.O conservador é outra história. Um imobilista, dirão alguns: alguém que se opõe à mudança, a qualquer mudança, porque assim determina a sua viciosa personalidade. Ou então é um reaccionário, dirão outros: alguém que não apenas se opõe à mudança, a qualquer mudança, como pretende revertê-la de forma a regressar a um paraíso perdido que, aos olhos nostálgicos do reaccionário, é simplesmente o avesso de um mundo que se encontra do avesso.Para o fanatismo progressista, o conservador não é uma alma que persiste no erro. É, resumidamente, um herege. E não será de excluir, seguindo as lições do preclaro Theodor Adorno em The Authoritarian Personality (1950), que se escondam outros vícios por detrás da heresia: uma personalidade com inclinação para o autoritarismo e, já no século XX, para as experiências fascistas que destroçaram a Europa. Recapitulando: conservador, imobilista, reaccionário, autoritário, fascista. Para quê perder tempo com pormenores?Este livro procura perder tempo com pormenores. Porque se Deus está nos detalhes, o demónio também está. As caricaturas que usualmente distorcem o conservadorismo que aqui se apresenta só podem ser explicáveis, mas não justificáveis, por ignorância ou má-fé.»