PEQUENA MADRUGADA ANTES DA MEIA-NOITE

Ao atravessar essa bela madrugada, lembro dos versos de Pessoa: o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia simplesmente porque não é o rio que corre pela minha aldeia; o rio local pode ser mais livre e pode ser maior. Neste quinto livro de poesias do autor gaúcho, premiado em 2010 com "Fim das coisas Velhas" como melhor poesia do ano pelo Premio Açorianos de Literatura, Marco de Menezes propõe uma intensa permuta entre o local e o universal, explicitada no poema que convida para uma partida de xadrez: vive-se o local para melhor descrever o universal. E vice-versa. Todas as combinações são possíveis e acabam sugerindo outras formas de percepção do mundo, levando o leitor a recalcular vida e morte, a rever os modos de nomear e a pensar no que há para além do nosso "ímã da lembrança".