Sinopse
Com Memórias de Cego de Jacques Derrida, o Departamento de ArtesGráficas inaugura uma série de exposições de um género um pouco novo, quedesignaremos, à falta de melhor, por Partis Pris, de tal modo a fórmula, emboraconvencional, tem o mérito da claridade. A regra do jogo é bastante simples:confiar a escolha de um propósito e de desenhos que o justifiquem, noessencial a partir das colecções do Louvre, a uma personalidade reconhecidapela sua aptidão para o discurso crítico, por diversas que sejam as suasmodalidades. O termo escolha não deveria no entanto provir de uma qualquerdilecção pessoal, onde triunfariam as efusões gratuitas da subjectividade, masde uma meditação reflectida sobre a virtude demonstrativa da obra, sobre o seuvalor argumentativo. Muito naturalmente, os membros da conservação estãoestreitamente associados a estas exposições e prestam ao comissário o seuconhecimento dos fundos, mas a liberdade do autor permanece soberana,admitida desde o princípio como um princípio intangível. Poder-se-á, é certo,interrogar a razão de um tal projecto. Porquê a palavra de um profano numdomínio onde prima a do especialista? Colocar a pergunta é também dar aresposta. É admitir que a arte se acomoda mal com os monopólios, sejam eleseruditos, e que os historiadores são capazes de admitir que a sua exegese sóganha enriquecendo-se com outras aproximações, com um outro olhar. Estaprimeira exposição, que fala de cegos e de iluminados, vale aqui uma metáfora. Areflexão de Jacques Derrida vai direita ao coração dos fenómenos da viso, dacegueira à evidência. Não há dúvida de que, de vez em quando, seránecessário um esforço de leitura em registos com os quais o amador não estánecessariamente familiarizado. Mas, se não fizesse parte do jogo ser difícil, nãoseria ele também menos lúdico? Podemos todavia dar por adquirido que, notermo do percurso, cada um encontrará a sua luz: aquilo que aqui Sc aprende,em sentido próprio ou figurado, são as vias do descerramento dos olhos.