Sinopse
Há 20 anos estudando os temas de gênero e sexualidade, com dedicação especial a travestis e transexuais, o professor Marco Aurélio Prado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lançou na última semana, o livro Ambulare, em que narra sob olhar técnico, mas ao mesmo tempo humano, o trabalho de acolhimento a transexuais no Ambulatório de Transexualidades da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde ficou ficou por três meses, em experiência.Por meio da ficção, o pesquisador assume um personagem no livro: o Ambulare. Ali, narra não só os procedimentos médicos para despatologizar os gêneros e os corpos, mas também as histórias e particularidade de cada homem e mulher que vê, na equipe médica, uma equipe de acolhimento e acompanhamento.A ideia de produzir o livro surgiu da necessidade que Prado sentia de ter uma experiência prática no SUS e conhecer a realidade de um hospital que usa de todas as burocracias do atendimento médico e, ao mesmo tempo, tem que acolher diferentes pessoas. Nos três meses no Ambulatório da UFU, o professor recolheu histórias e fez uma espécie de mini-diário desta pesquisa de campo. Queria pensar a despatologização do gênero, dos corpos e das sexualidades por meio da materialidade da escuta, do olhar e da assistência, diz o pesquisador. Segundo Prado, com a ficção, houve mais possibilidade dele contar detalhes e mostrar os sentidos que a experiência lhe trouxe. A ficção ajuda a evidenciar que as palavras e os sentidos podem possuir-se de formas diferentes, alterando nossa consciência e nosso olhar sobre o mundo, e que isso é um ato político, afirma o professor.Os principais personagens foram criados com base nas experiências que Prado vivenciou, mas algumas contradições foram acrescentadas para mostrar que os processos são maiores do que o senso comum imagina sobre gênero, sexualidade e corpo. Ambulare recebe pessoas que desejam construir sua autonomia corpórea, diz.Para o autor, o livro ainda abre espaço para um debate maior a respeito da pessoa trans no Brasil, discussão que ainda é carregada de uma ideia negativa, de doença, que faz com que as pessoas trans não tenham acesso à saúde de qualidade. Há uma ofensiva reacionária antigênero que tem ocupado as universidades e as casas legislativas e que impede o acesso ao debate sobre gênero nas políticas públicas. Segundo ele, o respeito à diversidade é um princípio do SUS que deve valer para todos e todas. Portanto, travestis e transexuais têm o direito ao acesso e à construção do cuidado à saúde com dignidade e qualidade, finaliza.