Sinopse
Na Bíblia encontramos dois tipos de argumentação sobre a maneira de se conseguir a salvação que são, na verdade, um dos pontos divergentes entre as Confissões Cristãs. De um lado, o evangelista São Marcos fala que quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado. João diz que quem Nele crê não é condenado, mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do Filho Unigênito de Deus; e Jesus mesmo disse que todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Algumas Confissões Cristãs utilizam desses textos para dizer que a pessoa humana é justificada pela Fé. Pelo fato de crer, já está salva. Por outro lado, a Doutrina da Igreja Católica afirma que a Fé é importante, mas ela precisa estar acompanhada pelas obras. Também, como no primeiro caso, há alguns textos que são significativos na comprovação e na necessidade da ação para manifestar a Fé. São Tiago diz: que aproveitará irmãos meus, se alguém diz que tem fé, e não tem obras? Porventura poderá salvá-lo tal fé? Assim também, a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma; e diz também, mais incisivamente, que como um corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta. São Paulo, falando aos Gálatas diz que em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pela Caridade; ser ou não circuncidado não tem importância alguma.Parece claro. A fé precisa ser manifestada pelas obras; pela ação concreta em relação ao próximo: Se alguém diz: Eu amo a Deus, e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois, quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.Conhecemos também outros relatos, sobretudo do Novo Testamento, que aprofundam com efusão o tema. Serão eles o tema desse nosso trabalho. De fato, para a espiritualidade cristã e vicentina, a Caridade é o essencial da nossa fé e o Pobre é o foco. Amar a Deus consiste em amar o próximo. É amando o próximo que se ama a Deus. Se falo que amo a Deus, e no entanto odeio o meu irmão, sou mentiroso. O próximo é o Pobre. O amor pelos Pobres, por aqueles de quem ninguém se ocupa, deve estar no centro da vida e das preocupações de cada cristão e de cada cristã. Frederico Ozanam dizia a respeito do serviço aos Pobres: Deveríamos cair aos seus pés e dizer-lhes com o Apóstolo: Os Pobres são nossos mestres e nós somos os seus servidores; os Pobres são para nós a imagem desse Deus que não vemos. Não sabemos amar a Deus de outra maneira, nós O amamos nas pessoas dos Pobres. Oxalá as reflexões que se seguem possam contribuir para o aprofundamento da espiritualidade vicentina que leva em consideração o amor ao Pobre, o verdadeiro próximo, no entendimento de Jesus Cristo.