Sinopse
Para quem tem a visão de que a prosa feminina é, por si só, sensível, certamente não leu ainda a prosa de Tércia Montenegro. Distante da metafísica de Clarice, apesar de leitora assumida, Tercia traz nas costas de sua literatura um texto notoriamente regionalista. É visível a aproximação, por exemplo, do contista, também cearense, Moreira Campos. O que pode ser visto, para citar um exemplo, na repetição de diálogos na construção do sentido, como percebido em "Vitorina".O livro de contos que traz Tércia ao universo da literatura feminina brasileira é perspicaz. Dividido em dezoito contos, a escritora faz um jogo com as figuras religiosas, tendo como protagonistas freira, padre, Madre, franciscano, judas, em contos que variam entre o cenário urbano e interiorano. Os contos, no entanto, no que diz respeito aos que apresentam figuras religiosas, não tratam com zelo e pacermônia as entidades cristalizadas, mas, do contrário, faz uma desconstrução dessas figuras. Uma Madre corrupta, um falso franciscano que mantém um relacionamento homossexual, um padre que se relacionava com uma mulher antes de morrer.Entretanto, apesar do título sugestivo às temáticas abordadas, há outros contos que fogem do tema e se concentram em um cenário mais urbanístico.De modo geral, os contos de Tércia, que variam entre três páginas em média, não trazem, em todos, um baque profundo, como é próprio dos contos tradicionais. Não é em todos que há a sensação de arrebatamento a ponto de bestializar o leitor. Porém, ao fim de cada um deles, o leitor toma consciência que Tércia, em suas peculiaridades, sabe o que faz.