ARAPOSA DE CIMA E A RAPOSA DE BAIXO (FORA DE SÉRIE)
Jose Maria Arguedas
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Sinopse
Existem obras que nunca deveriam ter sidoescritas por aquilo que anunciam de trágicoe irreversível. A raposa de cima e a raposa debaixo é uma delas. Sua leitura está marcadapelo anúncio, já na primeira página, dosuicídio do autor, José María Arguedas.Num texto de natureza indefinida no qual semisturam diários, depoimentos, romance eetnografia urbana, duas raposas milenárias,oriundas dos contos mitológicos andinos,revelam a realidade crua do mundo da pescana cidade de Chimbote, ao norte do Peru. Ummergulho nesse universo periférico, construídocom uma linguagem transgressora, permiteconhecer o outro lado da revolução econômicaque mudou aquele país nos anos de 1950.Este texto foi escrito durante os curtos períodos em que Arguedasse encontrava bem de saúde, os quais não foram muitos, dentro de umlapso de tempo de três anos. Além de projetar sinais de descrença doautor na possibilidade de sobreviver ao assédio do suicídio, coloca emxeque sua confiança na capacidade da própria palavra, que oscila entrea confissão e a invenção. Portanto, é recomendável aguçar os sentidospara entender as anomalias gramaticais encontradas, os erros na grafiade palavras ou o desaparecimento repentino de sílabas e sinais ortográficos,os ruídos inventados de uma pretensa oralidade popular e osem sentido de frases que ficam suspensas sem conclusão. Tudo isso,bem entendido, não forma apenas o invólucro da obra. É parte constituintede uma mensagem redigida numa zona árida na qual se batem,por um lado, o espanhol e, por outro, o quéchua, que se assenhora dasintaxe do texto e desata uma crise de reconhecimento da linguagem.Sua perspectiva é eminentemente oral. Arguedas sugeria a sua mulher,numa carta, que, para entendê-la, uma leitura em voz alta é muito esclarecedora.Em nosso trabalho de tradução procuramos recriar todosos desvios e ruídos originais, acrescentados obviamente aos nossos, nãocom o sentido de monumentalizar o texto, mas acreditando que sãoparte essencial da história da sua escrita. Como texto póstumo, sua publicaçãofoi assumida por Sybila Arredondo, viúva do escritor, e pelo poetaEmilio Adolpho Westphalen, segundo desejo do próprio autor. Assim,esperamos, como dizia Guimarães Rosa, que o texto continue, em outralíngua, a nossa, e consiga abrir caminho dentro de uma literatura diferentedaquela da qual procede, com a mesma força e intensidade coma qual foi criada na língua e na cultura original.[Esta tradução teve início no ano de 2010, na cidade de Florianópolis,graças a uma bolsa do Procad (2007/212). Doisanos depois, foi retomada, graças a outra bolsa, da Capes,dessa vez de pós-doutorado, sendo finalizada em junho de2013, em Castellón de la Plana, Espanha.]