Sinopse
O livro de Isloany é um pequeno ready made literário, tal como um conjunto de exercícios que exploram a tensão entre humor e forma. São fórmulas rápidas, receitas, cartas, declarações e pequenos demais encontros de palavra. Tudo se passa no mais ínfimo e comezinho de nossas existências ordinárias, com suas comédias e desencantos, mas é ali mesmo que espreita o inusitado da palavra. Palavra que dá graça e reinventa suas formas, batidas repisadas, gastas como as moedas de Mallarmé. Percebe-se como fio condutor das mirabolâncias de Isloany este esboço de paródia, de ironia, de impasse com o esgotamento de rapidez e do empobrecimento de nossa conversa cotidiana. Lacan dizia que o inferno não são os outros, o inferno é o cotidiano. No inferno tudo é para sempre, a mesma pedra descendo a colina, o mesmo pedaço de fígado aramado pelo abutre, a mesma sede que não é satisfeita pelo mesmo tonel. O divertimento crítico e inteligente que o leitor encontrará nesta pequena caixinha de jóias, que em vez de uma mesma música, nos traz a repetição humorada de um desencontro. São contos, minicontos, perversões exageradas, mas não muito exageradas, de forma literária. Como se estivéssemos assistindo uma troca tweets, uma série sitcom, uma fala vazia. Mas é ali mesmo que como clínica e psicanalista ela nos traz uma espécie miúda de cura não só pela palavra, mas de cura da palavra. Palavra costurada, palavra artesanal, palavra cuidada, que tanto nos falta para encarar o inferno. Christian Ingo Lenz Dunker