Sinopse
O escritor que tão bem nos revelou as múltiplas cidades de Luanda traz-nos um novo espaço, conduzindo-nos pelos rios que recortam a memória de um tempo e vão desaguar numa narrativa densa, desconcertante, fabulosa. O estilhaçamento da sintaxe convencional, a presença de neologismos, a incorporação de expressões em quimbundo, a articulação entre as matrizes da tradição e as da modernidade modulam o texto que exprime o compasso desgovernado da memória, marca essencial da obra de José Luandino Vieira.O confronto entre o dilaceramento e a noção de inteireza que define o percurso de seus melhores personagens atravessa aqui a linguagem, imprimindo-lhe um movimento em que as elipses se alternam com o curso caudaloso das referências. A imagem da travessia que povoa o texto é senha para o mergulho nessas águas que o autor oferece em mais uma manifestação de sua excepcional capacidade de combinar invenção e resistência.Contenção e transbordamento - o rio e suas margens - refletem-se assim numa escrita em que se projeta a história recente de Angola, mas não só. É também de outras crises que O livro dos Rios se ocupa, abismos da contemporaneidade e problemas que desde tempos imemoriais têm envolvido o homem e mobilizado os grandes escritores. (Rita Chaves - Universidade de São Paulo).