SOBRE LIVROS E SILÊNCIOS
Livia Petry
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Sinopse
Peguei no papel, era um telegrama avisando do falecimento do dona Maria, mãe de Alícia. Na hora, desejei confortá-la, dizer alguma coisa, mas nada saia da boca. Sentei ao seu lado e chorei junto com ela. Passei a mão esquerda em seus cabelos. A mão maldita, a mão que segurara o corpo na noite anterior. Na hora, não pensei em nada. Pensei apenas no avião da TAP, os custos da viagem, nossas famílias em Portugal. Meu pai, meus irmãos, todos. E eu, o "brasileiro", o aventureiro que fugiu da casa, que atravessou o oceano para ter uma vida melhor e o que resultara disso? Uma vida de merda, pá! Alícia e sua família nos Açores, eu, meu pai, meus irmãos em Braga, nós dois fugindo de tudo e todos, dos vizinhos fofoqueiros, das universidades caras, da vida sem um tostão que não seja para pagar os impostos. Euros? Euros umas pivicas! Vivíamos contando os centavos, economizando nas bicas e no cigarro, andando a pé por lisboa inteira para economizar as passagens dos autocarros e do comboio. Éramos reféns do resto da Europa que vivia bem às nossas custas e dizia estar endividada por nossa causa. Tretas! A verdade é que ninguém quer pagar a conta, nem os políticos, nem os banqueiros, nem os empresários. Sobra quem? Nós, o povinho. Que economizemos então, no pão e no leite, passemos fome se preciso for, mas paguemos regiamente todos os impostos, e a dívida com o FMI e a dívida com o Banco Europeu e... que mais? O escambau, tudo isso! Danem-se Davos, banqueiros, empresários! A conta é deles também! então, para sair no lucro, acabei saindo do país.