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A ÚLTIMA ILHA DO IMPERADOR

Julia Blackburn
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Sinopse
"A Última Ilha do Imperador", de Julia Blackburn, é um estranho relato sobre a decadência do general Bonaparte em Santa Helena, um oásis transformado em prisão.Na longínqua ilha de Santa Helena poucos se lembram que Napoleão aí viveu desde Outubro de 1815 a Maio de 1821, data da sua morte. A maioria dos habitantes recorda antes a presença de um nobre português, que teria, em meados do século XVI, transformado este pedaço de terra no sul do Oceano Atlântico, num imenso Éden de limões e flores, pássaros e morsas. Sobrevivente a uma cruel punição - por se ter convertido à fé muçulmana quando na Fortaleza de Goa deveria ter assegurado a religião do Império -, Fernando Lopes aproveita a paragem da nau lusitana, de regresso à pátria, para esconder do mundo as terríveis mutilações que sofrera. Tinham-lhe cortado as orelhas e o nariz, decepado a mão esquerda e os dedos da outra e, como era frequente na época, remataram o conjunto aplicando o suplício de "escamar o peixe", ou seja arrancaram-lhe o cabelo, a barba e as sobrancelhas. A Ilha de Santa Helena acolheu-o com amabilidade. O português sem mãos transformou-se num jardineiro solitário, estimado por todos os que faziam paragem naquelas águas, e lhe ofereciam sementes, plantas e animais de variadas espécies. Se três séculos mais tarde os ingleses destinam ao general Bonaparte a morada mais distante do mundo é porque ela se convertera num espaço inóspito e doentio. Batida pelos ventos alísios e assombrada por uma pesada neblina, convertera-se num palco de escravatura e desespero, explorado pela britânica Companhia das Índias Orientais. "A Última Ilha do Imperador", a primeira é a Córsega onde Napoleão nasce em 1769, habilmente descrita por Julia Blackburn, num misto de relato de viagens e biografia romanceada, é pois a mais trágica das prisões, o mais duro dos exílios, para quem guardava a memória de um passado triunfal. O grande conquistador, esmagado na Batalha de Waterloo, em 18 de Junho de 1815, não consegue sobreviver durante muito tempo, embora de início se tenha entretido passeando a cavalo, fazendo batota nas cartas e jogando às escondidas com as crianças. A escritora inglesa, filha do poeta Thomas Blackburn (1916-1977), consegue nesta sua primeira obra, publicada em 1991, recriar uma atmosfera mágica e claustrofóbica. Angustiante e promíscua, pelo número de pessoas a viverem na casa de Longwood. Irónica e absurda na tentativa de tratar com magnanimidade um Imperador que vivia agora perto dos ratos e das pulgas. O pequeno séquito que o acompanha, os vizinhos que o recebem antes de a sua casa estar pronta e o ditado das memórias de "Deus da Guerra", não são suficientes para o distraírem. Curiosamente os algozes britânicos mostram-se interessados em apoiar o prisioneiro quando este decide criar um jardim em Longwood, recuperando o ânimo e as forças. Napoleão jardineiro sai da depressão e da inércia, levanta-se de madrugada para ir cuidar das flores, concebe um pavilhão de chá, uma gruta artificial, sonha com um lago cheio de carpas, vedações de árvores altas que o protejam dos olhares das sentinelas, dois mil soldados o vigiavam. Todos cooperam desde os artesãos chineses até aos serventes que dormem aos pés da cama. O próprio governador da ilha, Sir Hudson Lowe - detestado por Napoleão, "parece uma hiena apanhada numa armadilha" - se entusiasma e escreve uma carta a Lorde Bathurst, em Londres. A resposta é optimista: "Se houver mais plantas, tanto no Cabo como em qualquer colónia britânica ou neste país, que o general Bonaparte queira juntar à sua colecção actual, não me pouparei a esforços para as procurar e enviar para Santa Helena." A explosão de actividade dura pouco tempo, o jardim florido de estilo clássico e simétrico cresce mas não lhe alimenta a necessidade de poder. Quando Julia Blackburn desembarca com marido e filhos na Ilha de Santa Helena já a morte de Napoleão está contada no livro. As restantes páginas descrevem as cenas de autópsia e enterro e a devolução do corpo a França, 19 anos mais tarde.Napoleão não ditou apenas as suas memórias, empenhou-se a escrever o testamento, encaminhou porcelanas, jóias, sapatos e relógios, todos os seus bens, mais até do que possuía. Cada membro da família ficaria com um caracol dos seus cabelos, a mulher Marie-Thèrese receberia o coração num cofre selado. Depois de na autópsia se ter vasculhado a razão de tão forte personalidade, alguém lhe cortou os testículos e o pénis de reduzidas dimensões, facto que Teixeira de Pascoaes omite na biografia "Napoleão", de 1940, reeditada pela Assírio & Alvim, em 1989.Julia Blackburn - que entretanto escreveu "Daisy Bates in the Desert", "The Leper's Companions", "The Book of Colour" e "Old Man Goya" - diz que foi o conhecimento da existência dos testículos de Napoleão, conservados em álcool puro num museu do sul de França, que a levou a investigar o seu exílio. O resultado é um livro apaixonante onde ressalta a perturbante constatação de que nem na morte o herói escapa à vã tentativa de ser saqueado do seu misterioso poder.

Categoria
Editora Ars Poética
ISBN-13 9788585470302
ISBN 8585470305
Edição 1 / 1993
Idioma Português
Páginas 189
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