Sinopse
O Mariano teve muitas casas. É um daqueles homens barthesianos que às vezes são forçados a reservar uma parte da vida ao efêmero, "aquilo que acontece uma vez e desaparece, é a parte necessária do Monumento Recusado". E eu, que também sou efêmero e muitas vezes vi o Mariano, o encontrei quase sempre nas ruas. E eu, que leio o Mariano desde há muitas e muitas casas, tenho para mim que a sua poesia é rua. A rua nega e, ao mesmo tempo, faz as casas. O "Casa" do Mariano é o seu Monumento Recusado. Não há maneira melhor de recusar do que erguer "Um lugar alheio para guardar / um bilhete lembranças echarpe / cardigã transparência lençóis". A casa está sempre noutro canto. A casa "tem que estar noutro canto", ou não sobreviveríamos aos chacoalhos. A casa é um monumento aos mortos de guerra bem no meio da avenida da praia. São nossos, os mortos. São nossos os tapetes sujos, os papéis velhos e os fios de cabelo que as visitas deixam nas nossas salas. As visitas podem nunca mais voltar. Os tapetes e os papéis a gente carrega para a casa que vem. "Casa é cuidar dos vivos / e enterrar os mortos." Uma vez ouvi o Mariano dizer que a casa é o mundo. Estávamos na rua.(Victor Heringer)Mariano Marovatto é escritor, cantor e compositor. Nasceu no dia 1º de abril de 1982, no Rio de Janeiro. Doutor em literatura brasileira pela PUC-Rio, teve sete livros publicados, entre eles "Mulheres feias de patins" (7Letras, 2012), "As duas" (Megamíni, 2014), "As quatro estações" (Cobogó, 2015) e "Inclusive, aliás: a trajetória intelectual de Cacaso e a vida cultural brasileira de 67 a 87" (7Letras, 2015).