Sinopse
JardinsÁ medida que correm os dias a alba, outubro, as brumas sobre o rochedo percebemos o aspecto vulnerável dos jardins perguntas o nome de um arbusto é um corpo tão precipitado haverá palavra que cubra seu deslumbre?« Julgo que não é inexacto afirmarmos que a poesia portuguesa tem dado a conhecer regularmente autores mais jovens que prolongam sem dificuldade o nível de qualidade a que anteriores gerações nos haviam habituado. Um deles é simultaneamente um ensaísta e crítico, um tradutor e um poeta notável: José Tolentino Mendonça. » Eduardo Prado Coelho escrevia estas linhas no jornal "Público" (19.09.98) aquando da publicação de "A Que Distância Deixaste o Coração", anterior livro de poesia de J.T. Mendonça, cujos poemas estão incluídos nesta edição de "Baldios", embora sem as fotografias de Vicente Moreira Rato que os acompanhavam. "Baldios" vem confirmar estas palavras e revelou-se como um dos grandes livros de poesia publicados em 1999. Uma poesia feita de alegrias e tristezas, comunhão e abandono, segredos, viagens, errâncias, atenta ao que a rodeia, tensa e de simplicidade extrema, ao mesmo tempo íntima e exterior.Fica-lhe aqui o poema "Duas cidades, S. Paulo", cortesia do editor.Baldios de José Tolentino MendonçaExcertosDuas cidades, S. PauloÉ da casa que quero falarporque nunca a visomente em cores de sombra quase íntimaa descreveste noutra cidadeno centro de todos os relatos há uma casaem que não pensamosnela as portas entreabrem-sesem que ninguém ainda passeou batem já numa despedidaquando nenhum de nós sabe sequerque vai partiro que mais nos distanciaé o desejo profano de compreensãoa nenhum vocábulo a belezaconfia a sua verdade perfeitae as casas sabem-no melhorpor isso se entregam ao silêncioas nossas casasenquanto buscamos nas longas conversasa sensação mais nítidaas casas percebem antes de nósque nos tornamos felizes