A noção de encenação vem do teatro, e perdura com a invenção do cinema, numa aparente submissão da arte do filme ao verbal (à narrativa, ao texto). Em sentido contrário, os cineastas têm procurado os meios de se distanciarem das tutelas da tradição teatro.
Borin Boccia O livro de Aumont dialoga com outro título publicado
no Brasil, Figuras Traçadas na Luz, de David Bordwell
(Papirus, 2008). O teórico americano, conhecido por
sua contribuição ao radiografar a narrativa clássica
hollywoodiana, é por sinal várias vezes citado por Aumont,
deixando antever que ao menos na teoria do cinema
França e Estados Unidos estão juntos.
Jacques Aumont inicia o livro afirmando que a encenação
está em toda parte e, para demonstrar, cita o exemplo
de um político francês, Giscard d’Estaing, quando
anunciou sua saída da vida pública pela televisão. Ao
final da transmissão, d’Estaing saiu de quadro pela
esquerda, de costas para o público, enquanto a câmera –
intencionalmente ou não, não se sabe – continuava ligada
enquadrando uma cadeira vazia. Imagem cujo simbolismo
é imediato e acessível a qualquer cidadão, Aumont chama
a isto de encenação.