Sinopse
A sua poesia tem, no entender do crítico António Guerreiro, um carácter elegíaco e musical, da ordem do canto, revelando-nos um espaço interior do mundo, ( prefiro sempre o que não vi no que vi Aquário, p. 17). São versos que convocam o pensamento na procura do infinito, que é apenas uma sugestão (?), num tempo que passa e que está suspenso. E neste exercício de desconcertante solidão que anuncia o que se perdeu ou passou, nesta linha débil que nos prende à memória, à vida, mesmo em poemas que podem parecer ter um carácter, diríamos, mais antropológico, de memória deste nosso tempo, como no poema Janja, Norte da Bósnia, onde se descreve a destruição provocada pela guerra ( Muhidin K. regressou à sua aldeia / (
) // Temerário, vinha retirar das cinzas o que ainda era possível, (
) // (
)Reparou / nos cães mortos, nas figuras que se escondiam, irreconhecíveis e // irreconhecendo-o., etc. o pathos está lá: a parte I desse poema termina Reparou / nos seus cinquenta e sete anos / e chorou calado.Refiram-se ainda as evocações ou leituras de poetas que pertencem ao seu edifício de pedra. Um eco de António Franco Alexandre, e Milosz, Auden, Gunn, Bernardin, Nobre, Crane. As mesmas pedras, / imoderadas sílabas. / Símile o arremesso.