RECADO DE UMA GAROA USADA

Não há melhor cartão de visitas de Osvaldo Moles do que seus próprios escritos. Dono de um estilo muito particular, repórter-cronista flagrando o cotidiano com sua prosa pontuada por poéticos devaneios e sensacionais tiradas humorísticas, ele versa com sensibilidade sobre temas dos mais diversos e autênticos. "Bonde, quando morre, vira anjo?", se perguntou em uma de suas crônicas. Em outra oportunidade, anunciou a seus leitores uma "Grande liquidação de fantasmas". Dentre os inúmeros cronistas e poetas que tiveram como musa inspiradora a cidade de São Paulo, poucos legaram produção tão fecunda como o eclético Osvaldo Moles (1913-1967). Exemplo incomum de sucesso de crítica e público transitava com desenvoltura pelo erudito e pelo popular - não raro, juntando esses opostos em magistrais textos veiculados nas rádios Bandeirantes e Record e nos jornais Diário da Noite, O Tempo e Folha da Noite, entre outros. Provavelmente, não conheceríamos Adoniran Barbosa se não fosse por sua parceria de sucesso com Osvaldo Moles. Na década de 1940, ambos trabalhavam na Rádio Record - Moles era produtor e Adoniran, um cantor frustrado, que fazia bicos na discoteca da emissora. Osvaldo Moles transformou o colega em radio-ator de primeiro time; com o sucesso no rádio, Adoniran conseguiu emplacar seus primeiros sambas - trilhando, não por coincidência, a temática popular aberta por Moles. Moles e Adoniran compuseram em parceria oito sambas - entre eles, "Pafunça", "Conselho de Mulher" e, certamente o mais famoso deles, "Tiro ao Álvaro", eternizado em gravação de Elis Regina.