LETRAS JUNTADAS

O primeiro nome: Zé Raimundo. E era ele! Sabia que falava com os vagalumes! Agora, vi e ouvi. Parece um menino que passa correndo. Traz vida a essa casa. No colo, no mundo todo. Árvores, folhinhas e pamonha. Traz casa a essa vida. Quem disse que não seria poeta? Sempre foi. E mais, nunca este só. Os outros nomes são também seus e são muitos. Homens, mulheres, meninas, moleques... Todos ele foi. Eu vi e ouvi. Agora sei. Faz com as palavras como naquela cozinha. Poeta, mexe o tacho enquanto canta o mundo. Via, ouvia, sabia. É que era eu também que cozinhava enquanto lia. Cozinhei eternidades de cometa, e me fui. Virei garoto e cresci num livro-vida. E vida tem uns estranhamentos. Fui velha e fui nova, no mesmo tempo. No meio de tudo, sem sair do lugar, tão perto, longe... livre, a poesia fala. Coração, tem hora, fica mudo, vazio e, junto, carregado de certeza. Aquela roça... esse mar. Em mil partes espalhei. Me reconheci e te encontrei. Assim, errei eu, dentro desse mundo. E de um jeito bonito, a poesia foi sendo enorme. Veia crescendo. Esse rio de existir, de leito fundo, mutante. Com cada gota, narra toda margem. Escorre de beleza. Era minha natureza? Era a sua? É que quando se lê, se mistura. E segui repaginando. Nasci rio, fiz chão, inventei mar, afundei no ar prá te acompanhar. E também estremeci, quando a força do tempo invadiu. Teus passados... tão nossos! Velho, Menino, Homem, Mulher... Eternidade. É um labirinto de percorrer. Com prazer e sem tempo. E se um dia me perguntarem: Raimundo era quem? Tenho certeza, foi a chuva. Cheio de beleza, amou, dividiu e celebrou generoso.(Luciana Pereira)