O GARATUJA (COLEÇÃO SARAIVA #208)
Jose De Alencar
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Sinopse
"No dia 3 de novembro do ano que se contou 1659 da graça e nascimento de Nosso SenhorJesus Cristo, a leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro estava em grande alvoroço.Não era a então nascente capital, sossegada e pachorrenta, como a grande corte em que setransformou. Se não mente a crônica, tinha naqueles tempos afonsinhos o gênio trêfego, e um sestrode intrometer-se com as cousas da governança para não deixar que os oficiais dEl-Rei lhetosquiassem muito cerce o pêlo e a bolsa.Promovida a corte, lembrou-se no princípio alguma vez da balda antiga; mas com a vidapalaciana, breve esqueceu de todos os ardores da juventude, e aquelas desenvolturas de rapariga.Agora dá-se a respeito. Já não é a carioca faceira e petulante, de saia de crivo e olhosbrejeiros, estalando castanholas ao som do fadinho. Fez-se dama; traz anquinhas, e arrasta a caudacom donaires de matrona.Sete horas acabavam de soar na torre do mosteiro, e apesar do muito cedo o povo enchia aspoucas ruas que formavam naquele tempo o âmbito da cidade, ainda conchegada às abas do Outeirode São Januário, que a protegia com seu castelo roqueiro.Onde porém mais alvoriçava o arruído era no Rossio do Carmo, nome que tinha então noslivros da vereança o Largo do Paço, ao qual não obstante a arraia-miúda continuava a dar a alcunhade Terreiro da Polé.Golpes de gente azoinada e assustadiça borbotavam uns após outros da Rua Direita e Becodos Barbeiros, mas sobretudo das bandas da Misericórdia, Castelo e Ajuda, área onde mais secondensava o povoado".