Sinopse
Eu cuidei para que o estilo deste livro fosse devocional, casto e útil, sem o ornamento de sentenças polidas, ostentação de eloquência, ou finuras teológicas. Minha única meta foi ensinar a verdade nua, com humildade, sinceridade e perspicácia. Com estas simples palavras, o sacerdote católico espanhol Miguel de Molinos (1628-1697) apresenta e define os objetivos de seu mais famoso estudo, O Guia Espiritual. E, provavelmente, nada haveria a acrescentar caso a sua própria vida não fosse objeto de uma das mais alucinantes perseguições religiosas promovidas pela Igreja Católica Romana. Isso porque a doutrina de Molinos ‒ inteiramente baseada na completa quietude e passividade da alma ‒ assim como exposta em seu livro O Guia Espiritual, promoveu uma verdadeira revolução no meio cristão da Europa setecentista. Logo batizado como Quietismo, os ensinamentos do Padre Miguel de Molinos, pela simplicidade de estilo, por falarem diretamente ao coração e por não estarem comprometidos com a rigidez da erudição clerical, ganharam tal notoriedade e admiração que a cúria da Igreja, temendo o advento de um novo cisma, através da Santa Inquisição, iniciou um forte processo contra a sua doutrina de realização espiritual. Apesar de ter sido absolvido algumas vezes pelo Tribunal do Santo Ofício, o desfecho de todo o drama vivido por Molinos seria a sua final condenação, bem como a proibição de sua doutrina. No decreto Papal de 1687; assinado pelo estão Papa Inocêncio XI, consta que aquele que for apanhado de posse desse livro será excomungado. Mas a história e os ensinamentos de Miguel de Molinos resistiram, e mesmo levando em consideração todo o esforço promovido pelas forças da opressão, hoje eles nos chegam tanto como exemplos de integral dedicação à busca da verdade interior, quanto como pérolas do pensamento libertário espiritual.