A TRAJETÓRIA DE ALFREDO MONTES

Este texto tem como objetivo perceber as representações que Alfredo Montes deixou na memória dos que conviveram com ele tendo em vista as restrições que o mesmo sofreu por conta das normas e convenções da sua época que limitaram o que lhe era possível pensar, enunciar ou fazer de acordo com sua posição nas relações de dominação. Portanto, pode-se asseverar que os ecos de uma determinada personagem podem reverberar por várias gerações criando diferentes representações ou mesmo corroborando com uma determinada representação pretendida por ela. Sendo assim, faz-se necessário compreender como alunos, amigos, leitores de jornais do início do século XX em geral e tantas outras pessoas se apropriaram do que Alfredo Montes ou mesmo outras pessoas que escreveram a seu respeito pretenderam perpetuar como um monumento desse intelectual nascido em meados do século XIX. Tendo como fonte principal os jornais, o que se pretende é fazer a união entre o que foi vivido por Alfredo Montes, as instituições para as quais ele contribuiu de alguma forma com os textos escritos a seu respeito, suas representações e construções intelectuais numa tentativa de ter uma melhor imagem desse professor. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de pesquisas sob a égide dos pressupostos teóricos da Nova História Cultural, trouxe uma ampliação do elenco das fontes a serem utilizadas nos trabalhos em História da . Nesse mesmo período, os estudos biográficos vêem demonstrado seu valor no sentido de que, através da análise da trajetória de um personagem, pode-se reconstruir o passado com vistas a compreendermos os acontecimentos relacionados com a área educacional. É através dessas considerações que se pretende corroborar a importância do uso de biografias como fonte de estudo no campo da História da , analisando-se a trajetória de Alfredo Montes. Ademais, um novo olhar sobre a História, nos leva a novas fontes e a novos métodos, o que nos faz pensar que os limites para se estudar e fazer História são vastos. Categorias como representação, apropriação e habitus dos atores históricos nos ajudam a compreender melhor as atitudes dos mesmos durante o fazer histórico. Alfredo Montes foi aprovado para assumir vitaliciamente a posição de lente da cadeira de Inglês do Atheneu Sergipense em junho de 1877 e a sua posse ocorreu no dia 3 de julho do mesmo ano. Após a sua aprovação, ele se tornou um dos mais influentes e importantes lentes daquela instituição: foi eleito secretário da Congregação em 1882, e também fez parte das comissões de exames finais de Inglês, Francês, Latim, Português, Geografia, e Filosofia. Ele ocupou a mesma cadeira até a sua morte e também foi autor de uma Gramática Portuguesa Prática, um Dicionário Inglês-Português e uma Gramática Inglesa, por concluir. Todas essas obras foram deixadas inéditas e ainda não foram localizadas. Quando da sua morte, em 1 de agosto de 1906, as aulas foram suspensas oficialmente por três dias, no entanto os alunos decidiram que fariam luto por oito dias.Os jornais anunciaram a missa que seria celebrada em memória de Alfredo Montes e convidavam todas as pessoas que desejassem prestar mais um tributo de amor ao ilustre morto. Naquele mesmo dia, os alunos do Atheneu Sergipense também resolveram prestar uma homenagem singular a Alfredo Montes, pois foram ao cemitério Santa Izabel para depositar no seu túmulo uma coroa de flores como símbolo da saudade que sentiam pelo seu ilustre mestre. Em 18 de maio de 1910, alguns alunos do Atheneu Sergipense se organizaram e contribuíram para que um retrato de Alfredo Montes fosse pintado por 1 Mestre em educação pelo NPGED/UFS sob a orientação da Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em História da : Intelectuais da , Instituições Educacionais e Práticas Escolares do Núcleo de Pós-Graduação em da Universidade Federal de Sergipe e o Grupo de Pesquisas História das Práticas Escolares, vinculado à Universidade Tiradentes. amorim_simone@hotmail.com 6363 Galdino Bicho, artista respeitado e reconhecido pelos sergipanos, e colocado no salão nobre do Atheneu. Na ocasião, foi salientado o papel do professor perante a sociedade e que o mestre era tudo para seus alunos. Através dos jornais, a imagem de Alfredo Montes com tudo o que ele representava, o professor dedicado à educação, o pai devotado, o marido cuidadoso, o cidadão de reputação ilibada e de valores rígidos, estaria perpetuada e serviria de modelo a todos os sergipanos. No que diz respeito aos professores do Atheneu Sergipense, sua imagem perante a sociedade sergipana, especialmente perante os pais, seria a de um modelo a ser seguido pelos seus filhos que encontrariam naquela instituição de ensino o local ideal para que seus filhos recebessem instrução, já que Alfredo Montes estava ali representando toda uma categoria: a dos professores do Atheneu Sergipense. Pode-se concluir que Alfredo Montes deixou uma representação muito expressiva na mente daqueles que escreveram a seu respeito e que tiveram a intenção de perpetuar sua trajetória. No entanto, também fica claro, especialmente quando da confecção do retrato, que não se pretendia a perpetuação da memória de apenas um professor, mas de toda uma categoria que fazia uso das armas disponíveis, no caso os impressos, para permanecer firme no seu campo de atuação.