Sinopse
Logo nas primeiras linhas já percebemos a que veio Romãzeira das fábulas: a preocupação de Valdemar Neto Terceiro com a forma é a marca principal da obra. A prosa poética permeia todos os textos. Passagens como uma faísca de universo dentro de uma retina quente, a morte lhe pintava a face como quem prepara um adeus e do sorriso veio o sussurro, do sussurro o tempo se fez são apenas exemplos da linguagem que encharca esse breve, porém denso livro.Breves, aliás, são as vinte narrativas. Contos ou crônicas? Desnecessários os rótulos quando o que predomina é o lirismo, o ritmo, a voz própria de cada história. A variedade de estilos nos mostra a segurança e o domínio do autor em relação às técnicas narrativas e, sobretudo, em relação à sua matéria-prima, a palavra. Digno de nota também é que o apuro linguístico não ofusca o conteúdo; ao contrário, realça a profundidade dos assuntos humanos, demasiado humanos. Isso vale tanto para os temas os dilacerantes (falta de misericórdia, solidão, morte, velhice), quanto para os temas singelos, nos quais a beleza está entranhada no ínfimo.Ainda no plano do conteúdo, interessante é a intertextualidade proposta por algumas narrativas, o diálogo com os clássicos da literatura e da filosofia. Literariamente, o autor nos mostra como os âmbitos do conhecimento não são departamentalizáveis e podem, esteticamente, interseccionar-se, como no trecho: Descubro que vou morrer neste exato momento, seria a maior descoberta humana? Talvez o que seja mais humano do que morrer é saber desse fato.Valdemar nos põe face a face com personagens criadores de mundos. Contudo, é ele o criador. Na verdade, cocriador desses mundos, com cada um dos leitores de sua obra. Vinte mundos que exaltam o poder do mito, o poder da arte. O poder da criação.(Texto da Orelha, escrito pelo autor Matheus Arcaro)