A PALAVRA SE FAZ CARNE (BÍBLIA E MISSÃO)

Estas páginas nasceram da experiência, ou – como se costuma dizer hoje – do campo de batalha: encontros missionários com jovens e não tão jovens, palestras e aulas, reuniões de missionários em chegada ou em partida, cursos de exercícios espirituais…Por causa desta sua origem, o livro conserva algumas vantagens e também alguns limites. Os limites são: a presença de sinais – às vezes de maneira evidente – da linguagem falada e de suas frequentes repetições. Destas últimas, porém, eu confesso que não me preocupei muito, convencido que estas apresentam alguma utilidade. As repetições revelam as insistências, os pontos estratégicos, o centro do qual o discurso parte e para o onde sempre volta. Ainda mais pelo fato que a unidade deste livro não deva ser buscada num caminho linear, progressivo, o qual, de etapa em etapa, dedutivamente vai desenvolvendo uma tese e construindo um itinerário. A unidade deste livro é circular, como quando se observa o mesmo panorama por meio de diversos ângulos. O leitor não terá dificuldade em perceber que o panorama que aqui será constantemente observado é o espetáculo da Cruz, no qual se vê a totalidade da missão: o seu o quê, o seu porque, o seu como e a sua direção.Recolhendo coisas faladas – e, principalmente, não escritas – estas páginas têm a vantagem de uma comprovação, pois é justamente quando são ditas, e alguém escuta e reage, que se compreende se as coisas faladas impressionam ou produzem efeito algum; se são claras ou obscuras, se têm a força da verdade ou o enfado da banalidade.Pelo menos é assim que eu penso. E, por esta razão, sinto a necessidade de agradecer muitas pessoas – realmente muitas, e durante longos anos – que ouviram as coisas aqui escritas, ajudando-me a compreender e a comprovar: às vezes com suas críticas pertinentes, muitas vezes com a sua cuidadosa (e alegre) participação, com suas perguntas de esclarecimento e com suas sugestões, que sempre me fizeram refletir e, algumas vezes, repensar todo o argumento.Particularmente quero agradecer a todos aqueles que participaram – com paixão e com admirável constância – dos encontros missionários que ocorreram durante anos em minha diocese.Todas – ou quase todas – as coisas aqui escritas nasceram no âmbito destes encontros. E não são todas minhas, mas pensadas com um grupo de amigos. Coisas escolhidas e discutidas, esclarecidas e, depois de cada encontro, avaliadas. A paixão que nos animava era grande e igualmente grande era a impaciência – talvez até exagerada – em relação às obtusidades, aos particularismos e aos recuos de todo tipo. Quando se percebia, ou se acreditava perceber, uma queda no nível da tensão missionária, era como se nos faltasse o ar.É a estes amigos que dedico este livro, recordando com muita simpatia, e igual saudade, os momentos vividos juntos. O desejo é que continue a nos faltar o ar toda a vez que percebamos a queda no nível (antes em nós que nos outros!) da paixão pela universalidade.Bruno Maggioni