Sinopse
Normalmente, quem se dedica aos estudos mais aprofundados sobre a história da nossa música popular, encontra muita dificuldade no acesso às informações. Felizmente, o mesmo não acontece no caso de Ismael Silva, compositor a quem muita gente dedicou seus estudos e sobre o qual ainda se pode encontrar uma boa quantidade de registros, até, com certa facilidade. É justamente por isso, que chama a atenção o livro Ismael Silva Samba e Resistência, no qual o autor Luiz Fernando Medeiros de Carvalho sai do lugar-comum das biografias e nos propõe uma reflexão bastante original, baseada na análise do texto das músicas de Ismael.Inicialmente, Luiz Fernando aborda a questão da pobreza e as poucas possibilidades de mobilidade social oferecidas ao negro naquela época, que acabam culminando na profissionalização. Depois, parte para as análises da dicotomia originalidade x banalidade, da questão da autenticidade e de alguns procedimentos da crítica tradicional, como por exemplo, Mario de Andrade que não enxergava com bons olhos a profissionalização dos compositores, reconhecendo como autêntico apenas aquelas manifestações que vinham do morro diante de sua pureza, sem manipulações pertinentes à indústria fonográfica.Ressalta, também, o contexto histórico em que se deu o surgimento da produção de Ismael, o início da radiodifusão comercial e as diferentes interpretações culturais que procuraram compreender a produção musical do negro, ao fim da década de 20.Por fim, no capítulo Artimanhas do Bamba, o autor se dedica a uma longa explicação do que ele chama de projeto da Jura. Divide a obra de Ismael em várias etapas, buscando a coerência do seu discurso e acaba culminando no que denomina consolidação do projeto narcísico, a questão do ego, cuja quebra da jura seria a infidelidade dele consigo mesmo. Uma espécie de luta no interior do imaginário do compositor que se articula com a reinvenção de outro discurso: o desenredo do seu próprio percurso existencial, construído nas entrevistas a jornais e revistas. Artimanha do bamba para escapar da apropriação e neutralização do sentido, a um só tempo, reprimido e impugnador da sua postura, para o autor.Apesar das várias análises antropológicas e até psicanalíticas que o livro oferece, ele está longe de esbarrar em academicismos. Pelo contrário, aborda um ponto de vista relevante, bem fundamentado e com uma linguagem acessível a qualquer leitor interessado. Na tentativa de traçar o perfil de Ismael através de sua obra, consegue alcançar seu objetivo com a clareza possível em uma análise subjetiva.