NÃO CUBRAM AS VERGONHAS

Nos contos de Não cubram as vergonhas, Maik Wanderson expõe um mundo de desejos latentes, desconcertantes, e o faz com seus cortes abruptos que, ao mesmo tempo em que dão uma rasteira no leitor, descortinam a entrada que leva à brutalidade, ao instinto, à queda da inocência ao rés do chão, ao florescer violento e à explosão de desejos outrora reprimidos, mas que uma vez desvelados, ganham impulso e nos carregam numa narrativa sóbria, até a chegada do corte seco, irrompido inesperadamente na trama de suas histórias, e que, se não nos paralisa, nos empurra para o próximo conto. As personagens deste volume, tomadas pelo desejo, ora armam-se dele e são cruéis, ora são suas vítimas; daí cria-se o absurdo, o animalesco ou o solitário nas situações em que suas personagens se envolvem. A narrativa toma os lugares criados e suas personagens com uma aridez típica da escrita de Maik. Desta mesma aridez brota fértil o encanto de uma força que se mostra durante a leitura de cada conto deste livro: quando ela não se encontra no caráter de suas personagens, mostra-se na brutalidade de suas histórias - que após cada ponto final, nos abandonam inquietos, maravilhados.