O TORCEDOR

O invisível é estrume sob o sapato. O voo das horas se demora nos olhos de Dyl Pires, o tempo longo da delicadeza que se estira e permeia esses poemas com clareza carinhosa e atenta. Língua de gato, a escrita sinuosa do poeta acaricia os cantos meio escurecidos, as máscaras de estimação, os gestos íntimos e o coração a céu aberto de habitantes invisíveis dos mundos secretos por onde ele passa, sem pressa. Um náufrago de alma intacta, meu amigo ama os perdidos que são iguais a âncoras pendulando sem navio ou uma raiz abandonada. Os do silêncio espesso e da carne verdadeira com que se fermentam almas intactas e febres. Comovidos vislumbres da vida em abajures sem lâmpada, farelos de pão sobre a mesa, calcinhas entorpecentes respirando segredos. Sem barulho, sem barulho, só afetos, coisinhas que duram e impregnam, corais do tempo amontoando ternuras na ausência. Reuben da Cunha Rocha