PASSOS DA DANÇA: BAHIA
Lia Robatto
(0) votos | (0) comentários
Sinopse
Em alguns lugares do planeta, a Memória ainda é cultuada como a deusa grega Mnemósine, mãe das musas Clio, a história; Euterpe, a poesia lírica e a música; Tália, a comédia e a sátira; Melpômene, a tragédia; Terpsicore, a dança; Érato, a poesia amorosa; Polímnia, a poesia lírica religiosa; Calíope, a poesia épica e a eloqüência; e Urânia, a astronomia e a geometria. É mãe adotiva da sétima arte e apenas simbólica da Culinária, porque esta, como os primeiros, os mais antigos, os ancestrais, não precisa de mães. No Brasil, a Memória é uma excluída, com as casas de seus cultos repletas de traças e cupins, que, muito eventualmente, como aqui neste livro, recebe homenagens.É que o Brasil é, há 500 anos, o País do Futuro. Não sabe exatamente que futuro, porque não tem idéia do que foi seu passado, suas qualificações, seus registros, suas experiências. Desconfia que é preguiçoso por causa dos índios, dos africanos escravizados. Desconfia que um dia chegaram os portugueses para acabar com a moleza. Desconfia-se que por isso fala-se português, faz-se o carnaval, dança-se a galinha, a tartaruga, o jacaré, o cachimbo do índio. Não tem certezas, o Brasil, tem apenas desconfianças. E, mesmo assim, às vezes.Tem, também, pessoas abnegadas, pessoas dotadas de generosidade e paciência espetaculares, como Lia Robatto e Lúcia Mascarenhas, que doam milhares de horas de suas vidas, únicas, ao trabalho de resgatar do esquecimento, do desprestígio e da negligência um passado sem o qual o nosso presente seria ainda menor.Portanto, quando abrirem este livro, o universo da dança na Bahia entre os anos 50 e o início do terceiro milênio, façam-no com respeito e admiração por essas guardiãs da Memória, que, durante quatro anos, enfrentaram as traças e os cupins, além de Pluto, o mais cultuado dos deuses contemporâneos, independentemente da religião que se professe, para editá-lo. Ah! Pluto? Era o Deus grego da riqueza. Um dia, ele pediu a Júpiter que o conservasse sempre, ao lado da Ciência e da Honestidade. Irritado, Júpiter o cegou, condenando-o para sempre, à companhia dos maus.