Sinopse
Escrever o corpo. Talvez seja esse o único caminho de dizer verdadeiramente algo. Um passeio no qual não vemos o caminho, mas o caminhar e as pegadas. Cada palavra diz de um caminho percorrido na pele. Escrever a pele, então. Essa fina película, que faz do meu corpo, corpo no mundo. Caligrafar, assim, só pode ser escrever o próprio corpo, seus afetos, nos quais as palavras só chegam antes ou depois, descompassadas. Algo insiste em ser dito como irrepresentável, fugidio, escapando e performando a manifestação unívoca do dizer.
A palavra, impregnada de outros, agarra-me, de modo que só posso entender quem sou e quem é você, dançando. É na dança que encontro o meu passo: apenas no encontro com o seu, enquanto ressoamos um no outro.
Entre a sintaxe e a semântica, um vazio, fazendo da palavra um gesto, que chega cedo ou tarde demais para qualquer instante. Como um toque no rosto, a dizer que não há tempo de chegada para aquilo que nenhuma espera é suficiente.
Talvez pudéssemos apenas fazer uma escrita impossível do corpo, em que tudo seria atenção, vibração, olhar e gesto. Para sustentarmos que não há outro tempo, senão esse e que não há outro lugar, senão aqui. É a nossa maneira de estar na rua, no encontro com o outro, no mundo. Sempre a ver durante o caminho, algo outro a ferver no asfalto numa tarde incalculável.