Sinopse
Apesar de não termos notícias do grau de Comp.: M.: antes da segunda metade do século XVII, muitos consideram este grau como um dos mais (se não o mais) importantes da M.: simbólica. Se considerarmos o desenvolvimento individual do Maçom na sua senda e aprendizado, creio que podemos considerar de tal forma, pois enquanto o aprendiz tem o primeiro impacto neste tipo de estudo, o companheiro, já mais habituado ao modelo de apresentação da filosofia, ritualística e simbologia, já teve tempo para entender a importância dos ensinamentos e já perdeu o impacto inicial que muitas vezes pode confundir a mente pela emoção do início.
Enquanto que o aprendiz, que veio à Loj.: saindo das trevas para buscar a luz, sem nada ainda conhecer, tinha que ser orientado em cada momento, em cada batida do maço na P.: B.:, o comp.: já ganhou habilidades de trabalho, transformando a massa informe em algo já mais parecido com a P.: P.:, que servirá na construção do T.:.
Na M.: especulativa este grau só foi inteiramente colocado como um grau simbólico no século XVIII, e tem como base a comunhão entre os IIr.:. O Comp.: começa a entender que somente com o trabalho conjunto, com o esforço de todos a obra pode ser concluída. Em nossos rituais temos que a liberdade é o ideal do Ap.: enquanto que a igualdade é o ideal do Comp.:, e esta igualdade deve ser exercida com os princípios da fraternidade, para que o trabalho conjunto possa ser levado a termo.
Companheiro, Entre as Trevas e a Luz Se formos estudar a palavra companheiro, ela vem do Latim, e significa “CUM PANIS”, ou seja, aqueles que dividem o pão,
com quem dividimos nosso sustento, nossas ideias e nossos problemas, confiando e apoiando um ao outro. Desta forma, deve o companheiro ter uma preocupação constante em desenvolver os laços de fraternidade e solidariedade entre os IIr.:, e só com a aplicação prática no cotidiano, estes sentimentos podem ser solidificados.
Nas instruções do grau, o comp.: tem a oportunidade de desenvolver sua capacidade de abstrair dos símbolos sua interpretação mais profunda, e com o auxílio dos MM.:, aprender como aproveitar este conhecimento cotidianamente. Só com esta interiorização e exercício prático diário isto se torna possível.
Agindo desta forma, o comp.: vai desenvolver o seu “Eu” mais profundo, com sentimentos íntegros e a observação da moral e ciência torna-se uma ferramenta inestimável nesta tarefa. Se pesquisarmos os aspectos históricos, vamos encontrar que no início não havia a distinção de graus, porém o que nos interessa
nesta obra são os aspectos simbólicos e filosóficos que nos trazem uma aplicação na vida prática. Entendermos mais profundamente nosso “Eu interior” é também nos aprimorarmos como homens de bem, úteis à sociedade. Em nosso simbolismo dentro de Loja, o comp.: estará posicionado entre os equinócios de primavera e de outono, quando os frutos da terra são desenvolvidos. O Comp.: já pôde executar tarefas aprendidas enquanto era Ap.:, e agora se torna um grau mais preocupado com a ciência e desenvolvimento do intelecto.
É um grau importantíssimo para o Maçom e para a Loja, pois é o momento onde os conhecimentos são solidificados, e é quando se acaba a construção do alicerce que mostra que tipo de M.: este comp.: será. Algumas lojas simplesmente negligenciam este grau, classificando-o como um simples intermediário. Na verdade deveria ser dada muita atenção a ele, pois na fase de solidificação dos conhecimentos é que se torna fácil solidificar os erros. É como um osso fraturado, que se não for
devidamente tratado, pode criar um calo ósseo defeituoso, gerando inúmeros problemas futuros. Muitos Mestres abandonam a ordem por não terem sido bem formados, principalmente neste grau, e quando Mestres têm os pensamentos e conhecimentos incompletos e inadequados, acabam não enxergando o sentido de continuarem, então abandonam a ordem. Considerando-se filosófica e simbolicamente, os três graus representam as três fases da mente humana, a saber: Intuição (associada à vontade), análise (associada ao raciocínio e planejamento) e síntese (associada à realização). Desta forma temos: Aprendiz (com a vontade e intuição busca a luz), o companheiro que põe em prática o trabalho e o Mestre que cria, trabalha no plano mental. Simbolicamente por representar o número dois (os opostos, os contrários, a dualidade do ser) em muitos casos também representa o embate entre as forças do bem e do mal, o conflito entre o querer e o saber, o domínio das paixões e a vontade controlada pela visão do que devo ou não fazer, de como agir. Pode e deve dar o passo lateral, sem esquecer, porém, de retornar ao eixo. Deve ser amplamente orientado pelos mestres que com mais experiência, e já tendo passado por isto, podem ajudar no caminho. Como tudo que é intermediário, é sofrido, pois ainda
não está pronto e com o conhecimento completo, mas também não é um simples iniciante aos mistérios. Se parar neste momento, acaba não sendo nem um nem outro, e o saber incompleto é perigoso. Como escrito em nossos rituais, parte da definição da ignorância é “saber mal aquilo que sabe...”. Desta forma trata-se de um grau fundamental e complexo, pois se não for bem instruído, será também uma falha da Loja e dos Mestres que não foram capazes de conduzi-lo propriamente.
Devemos lembrar que “a vida imita a arte”, neste caso a “Arte Real”. Tenho visto muitas mudanças de vida de IIr.: que passam por este grau. A ninguém é dado o direito de negar o conhecimento, e como reagimos a ele determina nosso grau de sucesso e felicidade. É o momento em que podemos ganhar maior maturidade maçônica e pessoal, o momento em que certamente a vida nos proporcionará “iniciações” para podermos colocar em prática os conhecimentos adquiridos. Devemos identificar estes
momentos, lembrarmo-nos do que aprendemos e colocar em prática, superando os obstáculos, rompendo o “circulo vicioso” dos erros e defeitos de nossa personalidade. Se quisermos evoluir,a vida nos proporcionará oportunidades para a evolução. Ninguém consegue evoluir gratuitamente, sem enfrentar as barreiras que nos amadurecem para isto. É sempre preciso trabalhar com afinco para atingir nossos objetivos que devem ser cuidadosamente planejados. A Loja deve funcionar como um único corpo, e não desprezamos nenhuma parte dele, pois qualquer dor afeta todo o ser em sua dualidade e complexidade. Este grau nos dá a oportunidade de estudarmos os confrontos contra o egoísmo e a ganância, e nos ensina a termos uma atitude positiva de quem pensa, controla seus impulsos e age de acordo com as virtudes que a ordem procura amplificar no ser humano. Para saber como reagir praticando o bem, devemos saber da existência do mal. Saber as recompensas do “correto agir e pensar” e a consequência de ceder às mazelas da vida. Diferenciar o bem do mal, muitas vezes não é fácil, e são as ilusões do cotidiano e falta de discernimento que nos levam aos erros, e quando os cometemos, normalmente não afetam somente a nós mesmos. Não adianta passar por este e por qualquer outro grau se não tivermos isto bem consolidado em nossa mente e personalidade. “Não há força maior do que um conjunto de mentes bem conscientizadas”. Juntos, com fraternidade e corrigindo-nos uns aos outros, podemos realmente fazer muito. Não se pode deixar que o “ego” atrapalhe. Não deixar que a vontade inata de que nossa opinião é a mais correta, influencie num debate de ideias que não levam a nada, pois cada um quer impor seu pensamento, e acaba não escutando o que o
outro tem a dizer e colaborar com nosso ponto de vista, que deve ser sempre aprimorado pelas experiências dos demais Irmãos. As instruções do grau nos dão as ferramentas necessárias para este aprendizado, mas devem ser bem estudadas e esclarecidas, e para que estas lições nos sirvam para a construção desta base sólida é que devemos ampliar o que está escrito em nossos rituais, com entendimento amplificado, com mente aberta e extraindo delas as receitas para nos levar a fazer renascer um homem novo, matando nossos vícios e construindo Templos à virtude. É com esta preocupação de esclarecer um pouco mais do muito que existe nestas instruções é que tento dar minha colaboração neste importante estudo. O ensinamento nunca será completo se não for bem entendido, buscado e colocado na vida
diária. Cabe a cada um absorver e tirar suas próprias conclusões de acordo com o que queira, e com o momento de vida e iluminação de cada um. O importante é que sempre podemos revisar e olhar com novos olhos a cada fase de nossa vida. Extrair o que nos serve no momento adequado é uma missão individual, mas sempre será para o maior proveito, se estudarmos com o grupo de IIr.: da Loja e da ordem de forma geral. Os símbolos e alegorias nos ajudam a reter melhor os conceitos,
estudar com profundidade é abrirmos um baú do tesouro que servirá para nós e para aqueles que nos rodeiam. Esta é a riqueza que compartilhamos, e não aquela que o mundo profano nos acusa de acumularmos. Esta é a ajuda mutua que devemos exercer. Este é o pão que dividimos em nossa mesa, com fartura, liberdade, igualdade e fraternidade. Ninguém é grande o suficiente para não precisar aprender com o outro, independentemente do grau em que esteja, pois nada substitui a experiência
de vida de cada um, e seremos mais bem sucedidos se considerarmos o nosso irmão como valiosa colaboração na evolução de todos. Cada instrução, cada trabalho, cada palavra e crítica fraterna é ouro que devemos acumular e dividir entre todos, para contribuirmos e cumprirmos com nosso papel e responsabilidade para com a sociedade. Companheiro: lembre-se de que este grau é fundamental para ascender aos graus superiores, mas deve ser bem estudado e compreendido. É como a taça da bebida doce e da bebida amarga. Podemos desfrutar da doçura da vida, mas certamente também sentiremos seu amargor. Quem determina o quão doce ou amarga será nossa vida e dos que nos cercam, somos nós mesmos. São nos momentos que construímos hoje, que plantamos as consequências que colheremos amanhã.
Quem de nós não deseja ser uma pessoa respeitada em quem os nossos IIr.: possam confiar? Que Maçom não deseja evoluir e ser reconhecido por suas ações, por suas palavras e por seu bom senso? Qual companheiro não deseja ser um Mestre produtivo que se diferencia por seu conhecimento que se traduz em atos
dignos? Para esta missão é que devemos nos esforçar em nossos estudos. A mente também evolui e se aprimora, como um musculo que se direcionado a exercícios controlados e constantes fica cada vez mais forte. Nossa inteligência assim também o é. Quando sentimos os benefícios de crescer em bom senso, crescer em nossa integridade e em nossos princípios, tornamo-nos inabaláveis em nossos valores e moral. Poderemos continuar este aprimoramento, e ajudando aos demais, celebraremos este caminho, afinal uma das melhores maneiras de consolidarmos o que aprendemos é ensinando. O Companheiro deve ter como uma de suas metas este aprendizado e exercício mental, e a Loja deve estar totalmente disponível para participar deste processo. Tudo que aprendemos em nossas vidas sempre teve a
participação de alguém que nos ensinou, mesmo que este professor seja a própria experiência por que passamos. Nada vem a nós se ficarmos parados, na inércia. O universo detesta o não movimento. A inação leva à estagnação. A falta de exercício mental leva à perda da capacidade de aprendizado e à ignorância. Uma mente ativa e saudável ajuda o corpo e a alma a também o serem, portanto sermos mais felizes. Pensem antes de criticarem. Pensem antes de agirem. Estudem antes de dizerem que sabem, ouçam antes de falarem. Sempre há o esforço antes do resultado. Não despejem opiniões aleatoriamente se não conhecerem o assunto, isto só expõe a ignorância de quem assim o faz, e muitas vezes ainda querem impor o seu ponto de vista mal pensado. Lembrem-se de que sempre existe alguém que pode conhecer mais. Só emitam pareceres se estiverem seguros do que podem dizer. Troquem opiniões e respeitem o que o outro fala.Enfim, estudem e sejam ativos nas discussões com o objetivo de crescimento. Não há nada de errado em dizer “eu não sei...”, pois ninguém tem que conhecer tudo. A sabedoria começa em saber aprender, em aceitar que ignora certos assuntos, que não tem opinião formada sobre tudo, que precisa estudar e aprender mais. Não julgue ninguém, pois com cada um podemos evoluir mais um pouco. Toda experiência de vida é valiosa, assim como cada um de nós é único em sua maneira de ser e ninguém pode nos substituir como pessoa. Se ainda não tentaram responder à crítica destrutiva e à ignorância com paciência e amor, tentem. O resultado será surpreendente. Esta atitude desarma os ânimos daqueles com mentalidade tacanha e acalma o momento. Uma vez calmo este instante, fica mais fácil dialogar e fazer com que todos troquem experiências de forma produtiva. Não há nada de errado em esperar o momento certo para colocar sua opinião, e ao mesmo tempo a pessoa que não pensa de forma equilibrada, se expõe na sua insanidade do instante. Para que os sentimentos negativos percam força, não podemos alimentá-lo com mais negatividade. Isto se transforma em ódio. O mal sentir
e falar tende a morrer rapidamente se não for alimentado. Se falarmos depois de ponderar e escolhendo o momento certo, o desarmamento fica suave e esta ação torna-se respeito e consideração. Companheiro, você está em um momento ímpar em sua jornada na senda Maçônica e na vida. Aproveite este momento e tire desta oportunidade a maior e melhor lição que puder, pois servirá para toda vida. Saiba fazer sua escolha no caminho do aprendizado e da virtude.
Bons estudos.