Sinopse
Certa noite, no interior de um ônibus, apenas nacos de luz transitando lá fora, inopinadamente tasco um pedaço de papel pardo e escrevo como que psicografando: “Da vida íngreme do poeta hão de ficar os versos dele - e os sulcos produzidos pelas lágrimas...”. Em Poemas Circadianos eu retiro do baú da memória os sonhos que não pude visitar (“Os laços do vento trouxeram-me a você como réstias de quintal”), as esquinas percorridas, o sertão e o mar. Através das palavras busco “um poema denso...”. Através das palavras procuro conhecer o etéreo, entender as minhas cicatrizes e encontrar a esperança do ‘Canto Final’. E, assim, falando do peso do tempo através do arrear dos dias, enxergar “barcos movidos a dentes”, abrir “as portas dos ventos”, sentir “o perfume do tempo impregnado num fio de cabelo branco sobre a gola da minha camisa” e “morrer contando a história que não acabou” - mesmo porque “o poeta não conhece epílogos...”. “E quando não houver mais alentos, estufar o peito e gritar: apedreja-me!”. Lembrando Anton Tchekhov: “E o ruído monótono e surdo do mar, que chegava de baixo, falava da paz, do sono eterno que nos aguarda (...) Esta excursão para a morte que é a vida”.