PAI, NÃO GRITE COM A SUA FILHA
Miria Moraes
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Sinopse
Pai, não grite com a sua filha, é o título de uma carta que escrevi para o meu pai no dia 13 de agosto de 2017. Ela surgiu da minha necessidade de desabafar sobre um relacionamento abusivo e desorganizado pelo qual passei, e ao mesmo tempo de trazer à tona algumas implicações da criação que tive durante a infância, regrada de amor, contudo muito dura e hostil. Muita gente por aí acha que mulheres em situação de violência doméstica gostam de sofrer. Esse é o tipo de afirmação que só alguém que não tem empatia pode fazer, porque, na realidade, nenhuma mulher, aliás, nenhum ser humano espera qualquer tipo de violência vinda de alguém que ama, de alguém que você escolheu para ser seu companheiro. Não vim aqui dizer que todos os homens são maus e perversos com as mulheres, e que todas as meninas que cresceram como eu passarão por relacionamentos abusivos. Não, eu não digo isso, generalizar nunca é recomendável, mas acredito que esse ou qualquer tipo de abuso, especialmente durante a infância, traz para a vida de uma pessoa traumas muito profundos que podem acarretar numa vida de sofrimento, de baixa autoestima, de culpa e de repressões. Na hora em que acontece um episódio de violência é muito difícil explicar, é como se você só sentisse culpa e a culpa que cada uma vai sentir pode ter várias origens, porque cada uma sente de um jeito. É o que estou tentando explicar e entender nessa carta. Pude vivenciar o quanto o silêncio é apavorante e como ficamos sozinhas e silenciadas quando somos violentadas. É por esse motivo que não vou guardar esse livro na minha gaveta, não vou deixar de expor situações como essa por medo ou vergonha. Eu não vou me silenciar. Escrevi essa carta para o meu pai porque pude perceber sua influência no meu modo de enxergar a vida e nas minhas ações, pude perceber que naturalizei muitas situações abusivas nos meus relacionamentos, pois era comum na minha infância que isso ocorresse. Quero mostrar essa carta às mulheres para que sempre busquemos força umas nas outras para lutar por uma sociedade mais equânime. Quero mostrar essa carta aos outros pais, namorados, irmãos, e dizer que não basta ter amor, é preciso saber amar e saber demonstrar esse amor. Por isso, Pai, não grite com a sua filha, não a sufoque ou a reprima sob a justificativa de que está fazendo isso por amor ou para o bem dela, se você parar dois minutos para pensar sobre o que é o amor, ele vai estar bem longe disso.