Sinopse
Uma observação bem-humorada e provocadora da realidade cultural portuguesa."Em tempos tive a veleidade ingénua de me lançar na escrita do que pensava que poderia ser um diálogo interventivo em Portugal, onde sempre me pareceu não existirem propriamente diálogos intelectuais, mas apenas monólogos. Quem discorda cala-se, e só comenta depois para os correligionários, à mesa do café, de um restaurante ou num qualquer convívio de amigos. Todavia, além dessa ausência do debate de ideias, intrigava-me a paixão portuguesa pela forma que suplantava a importância da lógica e da fundamentação das afirmações.Quando um dia deparei com a frase de Eça de Queirós em Os Maias «O português nunca pode ser homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita...» , senti-me legitimado no desejo de me empenhar na causa em prol da linguagem clara e distinta.Nem todos os ensaios desta colectânea tiveram intenção de polemizar com os autores neles referidos. Casos há por exemplo os sobre Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço, José Saramago que não são de modo nenhum textos em debate com eles mas com autores que sobre eles escreveram. E, já agora, as discordâncias pontuais com Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Jacinto do Prado Coelho, Natália Correia ou Helder Macedo em nada desmerecem o apreço que a obra de qualquer deles me inspira."Onésimo Teotónio Almeida