Sinopse
As imagens que habitam estes versos são capturadas a partir da posição única e não intercambiável do sujeito no mundo, revelando, ao final, uma província ou um eu em sua contingência e universalidade. É que a chuva que cai no leito do Rio Capibaribe é a mesma e vária chuva que ocupou, uma outra vez, os versos de Vallejo e Gullar, provocando uma reflexão poética sobre a existência. Igualmente, o campo ou o bairro acusam o topos geográfico a que se liga a poeta, mas, antes de confinar o seu estar-no-mundo, infundem-lhe o sentido metafísico do tempo ( o nosso tempo é o enquanto) e do espaço ( no centro de lugar nenhum (...)/a plenitude do vazio) e as questões últimas que o pensamento se impõe como em morro na medida em que tenho consciência de morrer. Isto não implica, no entanto, um afastamento da imagem poética, como se tributável da especulação, ao contrário, os topos e experiências recorridos aqui ( os barquinhos do Capiberibe; o rumorejo das árvores no vento) são reabilitados em sua particularidade, em sua configuração nunca idêntica/ porque a madeira desbota e teus cabelos vão a cinza.Ainda que múltipla, a matéria destes poemas se reúnem em torno do eu, situado em um mundo desencantado, de ontologias dissolutas, mas em que ainda se anseia por algum tipo de unidade ou união providas, talvez e momentaneamente, pela síntese poética de um presente que não importasse de retornar eternamente a si mesmo. Sem fatalismo, no entanto. Estes poemas convidam a passear os olhos, sob a luz dourada de verão, pelos morrinhos do horizonte, com lirismo e uma dose do espanto primevo e metafísico. A juventude que se exige neste livro é a do olhar.