ALFARRÁBIOS DE AMBAGES & AFRONÉSIAS

"Nossa imaginação pode transportar-nos para lugares distantes e inimagináveis, mas, creiam e pasmem senhores e senhoras, tais cenários, possivelmente, podem existir... A narrativa que segue não tem época justa nem prova que corrobore ou condene sua verossimilitude. Os protagonistas e demais são, supostamente, os habitantes (descendentes e/ou sobreviventes) de um lugarejo batizado com o epíteto religioso de Villa Sanctus Corpus et Sanguinis de Christus, apelidado carinhosamente, mais tarde, de Morada Santo Cristo.Esse lindo lugar, onde ecoa a cantiga do vento e o arco-íris dá o ar de sua graça pelo menos uma vez por semana, recebera sagrado nome, pois, segundo os mais anosos moradores locais, os primeiros desbravadores, constituídos por cenobitas ou monges, mulheres, homens, crianças e escravos, gente que era aferrada em suas crenças cristãs, encontrou um antigo crucifixo banhado em sangue sobre uma magnífica pedra preciosa (para ser mais exato: uma enorme ametista) bem ao centro daquela várzea. Eles, tomados por um incomensurável contentamento, um tremendo do senso doentio de religiosidade puritana e muita exaustão, principalmente, devido à fatigante jornada que, literalmente, os cegou de forma degenerativamente fanática, acreditaram ser o sangue de Jesus Cristo e caíram imediatamente de joelhos, entregando-se a um rosário intenso e, ali mesmo, construíram uma capela e fundaram o vilarejo. O tempo, não pregado pelos cravos do pretérito nem aturdido pela sedução do porvir, foi, pacienciosamente, moldando aquela região com suas mãos, ora ásperas, ora aveludadas. Assim também, com todo o seu charme, hipnotizou e modelou a quase todos os inquilinos do vale, fazendo-os marionetes a seu bel-prazer e iludindo-os com as lendas dos primeiros humanos que descobriram e arrotearam o vale."