Sinopse
Toda pátria, hoje sei, é também uma espécie disfarçada de argonauta. Como todo navio hasteia pelas vagas o sabor pátrio da sua bandeira. Como Odisseu não cessou de buscar regresso até sua Ítaca; como Eneias errou pelos mares até cumprir seu destino de fundar como Roma sua nova Tróia; como Vasco da Gama navegou para além da Taprobana que era o limite conhecido também das nossas almas; como o marinheiro da peça de Pessoa é modo de recriação onírica de uma nação em vias de se refundar, por sermos todos, ante a perspectiva da morte, pátrias inteiras sempre em busca de ressurreição na esperança baldada de compreender algo sobre o porquê de cá estarmos antes do naufrágio; como cruzei anônimo o Atlântico, também em busca de orientes, na terra de Amália que também esta cumpriu Portugal, não num idealizado Quinto Império, mas na sua maneira concreta e eterna de fundir à voz o sentir profundo do seu povo, que lava no rio. Povo do qual Camões e Pessoa fazem parte soberanamente. E também lavam. Assim como a cada renascimento de nós, pomo-nos a velar nossos simbolismos já defuntos, e a velejar por pátrias totalmente reinauguradas após ganharmos e perdermos guerras assim também se deu este livro. ¶¶¶ Sair do meu país para achar cá também a minha raiz é o mesmo que navegar do estatismo para o centro tectônico do movimento. 1755 particular. Do acomodado para o felizmente incomodado que me abala a cada dia as certezas e treina, com sismos, meu eixo de equilíbrio. Pelos conceitos de drama e páthos, tragicidade clássica e moderna, estático e extático e pela tensão vibrante gerada pela inevitabilidade de perguntas irrespondíveis perguntas sagradamente malditas do Homem desde que sua consciência de si próprio fê-lo digno desse estatuto , pude mergulhar como em tempos sonhava ter ensejo de fazer na homérica e supracamoniana obra desta pedra de Lisboa que foi e segue sendo Fernando Pessoa.Índice:Pus o meu sonho num navioe o navio em cima do mar.Depois abri o mar com as mãospara o meu sonho naufragar. [
]Debaixo dágua vai morrendo o meu sonhovai morrendo dentro do navio.Chorarei quanto for precisopara fazer com que o mar cresçae o meu navio chegue ao fundoe o meu sonho desapareça.(Trecho do Fado Naufrágio,de Cecília Meireles e Alain Oulman)Prólogo Introdução 1 Primeiro ato: O marinheiro: gênese. 1.1 O programa estético da revista Orpheu: continuidade e inovação1.2 O marinheiro: singularidades. 2 Segundo ato: O marinheiro: a cinética pessoana (noite e mar como tempo e espaço) 2.1 O corpo clássico (Ricardo Reis). 2.2 O corpo andante (Alberto Caeiro). 2.3 O corpo extático (Álvaro de Campos). 2.4 O corpo estático (O marinheiro) 3 Terceiro ato: Elementos classicizantes nO marinheiro: reminiscências e ecos trágicos. 4 Epílogo 5 Referências bibliográficas: 5.1 Obras de Fernando Pessoa 5.2 Bibliografia geral 5.3 Sitiografia 5.4 DVDs e CDs 5.5 Artigos publicados e teses acadêmicas do autor desta dissertaçãoAnexos Apêndices Agradecimentos O AUTOR:THIAGO SOGAYAR BECHARA (1987-). Brasileiro de nascença e lisboeta de alma, Thiago estreou-se em livro aos quinze anos e esta é sua 13.ª obra- solo. Trafegando por distintos gêneros, lançou em 2018 o livro-catálogo de fotos e poemas Portugal: à luz das origens que integrou a exposição fotográfica itinerante fomentada pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Jornalista Cultural, foi apresentador e assessor de imprensa; é Mestre em Estudos de Teatro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com a tese que ora se edita, e doutorando em Estudos Portugueses e Românicos pela mesma instituição, com investigação sobre as marcas clássicas e trágicas na lírica do Fado, além de cantá-lo em retiros típicos amadoramente, tendo privado da amizade de personalidades como a fadista Celeste Rodrigues, para quem compôs a convite da própria. Em 2014, integrou o grupo de investigações dramatúrgicas fundado pela atriz brasileira Regina Duarte, e em 2015 falou mais alto seu amor por Lisboa, onde vive desde então.www.thiagobechara.com.br