Sinopse
A poesia de Rosana Piccolo provoca estranheza, estranhamento e, ao mesmo tempo, hipnotiza. Num primeiro momento, ainda que regida por rigorosa sintaxe, lança o leitor no vaivém caleidoscópico das mais inusitadas combinações de sentidos, músicas, formas e ideias. É aí que lhe tira o chão. O leitor se perde para, passo seguinte, encontrar-se em alumbramento. Este encontro, entre o que sente perceber e o que percebe ser, arquiteta uma dinâmica que (as)susta-lhe a respiração ora em fôlego curto, ora sem fôlego algum. Às galáxias destas sensações e destes sentimentos vêm somar-se a estupefação e o maravilhamento dos que são possuídos pelo amor. Amor à linguagem da poesia, antes e acima de tudo. A coreografia dos signos em dança desenha, passo a passo, passo sim, passo não, o (des)compasso das ideias, sons, imagens. Tudo em close. Tudo em uníssono. Em Rosana Piccolo, cada poema, ópera prima, ao seu modo e jeito, finda-se num verso-clímax, como se o conto, à la Poe, adentrasse e adensasse-se em plena poesia. Eis um dos segredos de Rosana Piccolo: verter o verso em irmão, irmã e ímã de todas as linguagens e sentimentos. Outro: quando Bosch, em coito com Gaudí, escoiceia o outro o leitor com patas de lã e unhas.Amador Ribeiro