Sinopse
Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia, ensina Liev Tolstói, e essa singela porém sábia frase é seguida à risca por Emir Rossoni nos dez contos que constituem Domanda Nísio. Em narrativas muito bem escritas, de medida exata e realizadas com o apuro de um ourives do estilo, Emir mergulha fundo nos dramas e tragédias que constituem a vastidão da experiência humana. Por meio de narradores que criam identificação instantânea com o leitor, seja o menino de Eles não encontravam Juliana, seja o filho pródigo que retorna à casa para descobrir um irmão muito diferente do imaginado em Domanda Nísio, o autor consegue fazer com que cada história não seja somente lida em um gesto despreocupado e distante, mas nos faz sentir a trama como se ela fosse ferro em brasa sobre a pele. Alguns livros lemos para encontrar alívio do cotidiano, outros são lidos para nos divertirmos e existem aqueles que precisamos ultrapassar por obrigação; no entanto, a verdadeira Literatura é a que nos faz questionarmos o próprio estatuto da humanidade, condição com a qual nascemos e que cada um possui a sua maneira de lidar. Em Domanda Nísio, é possível ver um escritor no mais completo domínio do seu estilo, usando textos para apresentar não respostas, mas questões, e esse é o seu maior mérito: transformar a Literatura em um incômodo espelho, um lugar onde conseguimos divisar as nossas maiores qualidades ao lado dos mais desprezíveis defeitos. Não se engane pela aparência desse livro: ele é uma teia de aranha, e você, incauto leitor, está prestes a ser pego pela armadilha de um exímio narrador a tal ponto que irá se apaixonar pela própria arapuca em que se enfiou. Boa sorte.Gustavo Melo Czekster (Escritor)