Sinopse
Maurinete Lima é poeta de visão fina e pontiaguda. Veludo e aspereza que tudo une separa. Urdidura e trama, estrela e constelação, um único gesto poético. Espírito e matéria, recorte e costura, som e silêncio é o que leremos em cada linha de Sinhá Rosa, o emblema monumental dessa poesia plena de uma beleza desconhecida e totalmente livre de vaidade. Como tudo o que é falado, assim é o escrito por Maurinete Lima. Cada linha desse Sinhá Rosa nos faz saber da escuridão como aliada. Nessa aliança, a escuridão é também o fio de prata a amarrar poemas e, neles, o leitor. É nesse estado que somos enviados à vida, ao mais próximo no que há de mais longe, às alteridades imediatas, aos tempos ocultos contidos no tempo presente. Sinhá Rosa é todo a imagem do que nos falta conhecer, o rosto do imponderável: matéria dos versos de Maurinete Lima, Maria do Quilombo, criptógrafa, arquivista e tudo o mais. A escuridão é ainda a tesoura que tudo abre. Alinhavo em versos a descosturar as ideias mais aceitas. Suas palavras nos levam pelos olhos a um tempo de atenções perdidas. Na atenção que se arma, velas erguidas de um navio, a poesia é tecido usado, é do tempo que se foi, e é o tecido novo do tempo de agora. Guardado no fundo de um baú que se há de abrir como a um pedido que não necessariamente se atende. Leremos Maurinete Lima convencidos de que a atenção nos justifica, de que a perdemos, mas é possível reinventá-la. Parar e puramente observar pessoas e animais, materialidades e sentidos indisponíveis, é um aprendizado urgente. A poeta é a mestra. Ela nos conduz ao seu tempo e, assim, nos devolve a nós mesmos prontos, quem sabe agora, para os estados catalogáveis do ser. (Márcia Tiburi)