Sinopse
Dividida em quatro partes, a obra inicia seu percurso com um Fígado que faz mais do que digerir acontecimentos difíceis. Ela passa por um Pulmão que move o sopro da vida, as palavras e o próprio entusiasmo diante do mundo. Singra por um Útero que conhece bem a ideia da fecundidade, mas que também se faz órgão de escutar os tempos da terra, de sentir as securas e de tatear os ocos escuros. E finaliza seu percurso num Coração que não apenas mobiliza sentimentos, mas busca capturar na veia e no verso/ os ritmos do silêncio.A escrita de Clara Baccarin oferece recortes do quotidianos dando ênfase a detalhes, e aposta nas conexões como quem acampa nos corações baldios/ e espera que chova. Mergulha nos encantamentos e magias da vida, mas também em seus desafios e rudezas, como no poema decepado, que trata da difícil e urgente porque, infelizmente, ainda tão comum e tão tolerada temática do assédio. É uma arte que não ostenta erudição, embora a demonstre na capacidade reflexiva, na difícil conjugação entre simplicidade e profundidade.Sua poesia tem essa coragem de mergulhar na simplicidade. Esse desafio é tão grande que Picasso afirmou que precisou uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças. Clara certa vez me disse que se vê como quem escreve no chão com pedaços de tijolos. Como se ela aproveitasse as palavras disponíveis para construir sua escrita. E, com isso, é possível identificar seus passos precisos guiando pela teia de palavras nossos olhos e sentidos até um lugar em que o corpo reaprendeu a brincar/ sem os jogos da mente. Teofilo Tostes Daniel