Sinopse
Juarez NogueiraNa língua tupi, Suindara é coruja. Significa o que não come e os indígenas assim pensavam por ser ave noturna. Ave encantada que foi outrora um pescador, acreditavam. Diz-se também que é bicho agourento, rasga-mortalha. Mas é a coruja símbolo de sabedoria. Da aguda capacidade de ver no escuro. Da clarividência de ver e ouvir o que os demais não vêem, não escutam. E o que isso tem a ver com a Leila?Para saber, leia Leila! É de lei da boa leitura. O nome já a prescreve. Ler. Lê. Lei. Lá, palavra que leira, leina.Leila dá trocadilho. Aliteração. Paronomásia. Dá paroxismo, a agudeza de seu texto peixe-vivo. Dá haicai, aiaiai, enredo e desenredo, prosa e poesia. Leila dá o que ler.E o que falar? Em bom mineirês, Leila é um trem danado de bão.Mas Leila é acreana. Vá, nas páginas dessa Suindara, ler o que é isso... Rede irisada de tipos a que a crônica de Leila apanhou e deu o lustro do gênero humano, com acuidade de ave pescadora que vê brilhar na escuridão a prata do peixe, o cardume inteiro.Coube a mim, mineiro, aqui laudar Leila. Certo, mineiro tem que garimpar. É de lei. Quando viajei pelo a.C.RE, em 2006, garimpei amigos de boa (pa)lavra. Daí de dentro veio Leila. Dentro porque ela tem esse jeito de deixar a gente, só com palavras, muito à vontade. Como se tivesse permanentemente escancaradas as portas da sua percepção, das suas emoções, do seu sentimento. Casa aberta, arejada, cama-mesa-e-banho, puro convite ou ameaça sedutora. Entre. Fique à vontade. Palavra de Leila.Palavra de quem se expõe com intimidade muito própria do seu escreviver. Por isso nos predispõe à cumplicidade muito íntima com as histórias que conta, reconta, reencanta. Augura. Histórias que poderiam ser as histórias da gente, as que a gente gostaria de colher num sobrevôo em meio à paisagem dessas memórias rasantes de afeto.Acho que foi por isso que quando li Leila pela primeira vez, senti que a conhecia de longa data. Ela despontou lá no Blog do Altino, precedida de sua verve crônica, pedindo licença, querendo se justificar. Disse-lhe que não precisava se justificar, basta escrever. O seu texto a justifica: lei, lá, é toda prosa.Leila é Jalul. Gosto da pessoa. Gosto do nome. Tem um J. J é um anzol. A Leila tem a manha de fisgar a palavra, com a palavra fisgar a gente. Um fisgo que tira do espinho, de repente, a doçura do peixe, ao mesmo tempo que uma voz sereia anuncia, lá no fundo, dentro, cortante como o grito na noite ou a risada na luz do dia: Gente, é a palavra que prediz a vida!