OS SINOS DE ENCARNAÇÃO

Assim que os sinos começaram a tocar, Encarnação soltou a colcha que bordava todas as tardes e foi para a camarinha. Mal se olhou no espelho do caritó, pegou o uru de palha que já guardava com uma muda de roupa, um lençol, um pano de se enxugar e um rosário, e botou dentro um pedaço de pão e uma rapadura; encheu de água sua cabaça de colo e a acomodou no uru. E saiu.Quem acompanhará Encarnação em suas andanças pelas terras de dentro, onde não se ouve a pancada do mar?Lá, menino que toma café donzelo aprende a voar? Anjinho que morre de fome continua a chorar sob a cruz de sua sepultura? Moça que foge com assassino do pai não deixa nem sombra? Judas que vai ser malhado balança os braços? Avores viram bens de herança?Só Encarnação conhece os mistérios dos viventes dessas longes terras.