MESTRES DO JUAZEIRO

O professor João Evangelista, por meio do tratamento interdisciplinar de seu tema - o imaginário social dos mestres do Juazeiro -, converte os dados a respeito dos artistas populares na problematização da comunidade da qual fazem parte. A aparente ingenuidade dos artefatos produzidos é superada. Neles estão impressas as crenças e os costumes de um povo sofrido, mas, ao mesmo tempo, confiante em melhores dias. Desse modo, produzir arte no Juazeiro na é só atender às exigências do cotidiano, fabricando utensílios domésticos. Além desta instrumentalidade, o que se observa é a concretização de certas relações de sentido que dão coesão e coerência à trama social. Os artefatos canalizam a memória da coletividade, servindo como concreta escritura de sua história. Na primeira parte do livro são discutidos os problemas específicos de uma abordagem do popular não reduzida a folclorismos. De nada adianta uma estéril acumulação de informações sem um tratamento teórico das mesmas. Nesse ponto, sociologia, antropologia, estética e economia convergem para fornecer uma imagem total da arte popular. Após, e até o final do livro, são oferecidos retratos compreensivos do cotidiano do artista no Juazeiro, com o intuito de inseri-los nas questões de seu metier assim como nos dramas de seu grupo social. Mestres do Juazeiro não é apenas um livro documental. Parte de um pressuposto que, se orientado para os centros urbanos, levaria os "civilizados" a repensarem seu modo de estar no mundo: somente uma relação criativa com a realidade é que possibilita o sentido do social. Somente a arte faz com que tenhamos uma memória, um passado a refletir e entender. Valorizar a arte popular é contribuir com a perpetuação da coletividade.