CANUDOS

Do mesmo modo como A Quinta Sintonia de Beethoven, A Quinta Expedição, do ficcionista Baiano Oleone Coelho Fontes, surgiu inadvertidamente, de golpe, numa noite em que coronel reformado do Exército historiou para o cronólogo sertanejo exercícios militares praticados nas caatingas e carrascos de Canudos. Antes da fantasia nasceu o ensaio O Treme-Terra. O coronel Moreira Cesar figura num e noutro.Utiliza o autor instrumenta técnico comum a novelística inglesa - o contraponto. Par de tramas compõe estruturas que tem lugar em duas épocas: 1897, quando da renhida luta nos sertões da Bahia, e 1957, 60 anos após o termino do fenômeno conselheirista que degenerou em bárbaro confronto entre irmãos. Ambas as tessituras se interpenetram.Narrativa ágil, densa, enérgica, em ritmo que mantém seguro o leitor da primeira a derradeira linha. Painel dos homens e da cultura sertaneja dos seculos XIX e XX, Canudos - A Quinta Expedição é uma autêntica epopeia, fascinante de todos os ângulos, num mundo repleto de visões, delírios e diabruras. Povoam esse espetáculo itinerante e circular, a um tempo trágico e picaresco, visionários, profetas, alucinados, vaticínios apocalípticos, armênio que deixa Amsterdã atraído por diamantes, coxo praticante de bestialidade, espadachim, balões sobre espinhos e cascáveis, um Noé encarnado em matuto construtor de arca do arrependimento, estrela cadente que toma no coração de brigada militar, estouros de boiada e de manada de caititus enfurecidos, convertidos em bastiões do Belo Monte, sexo, priapismo, cidade encantada, rapto, mistérios, fuzilamentos, numerologista, traficante de armas... etc.O leitor encontrará tudo isso e tinturas outras com as quais preencherá a solidão da leitura. E, ao chegar ao fim, desejará retornar ao princípio, começar de novo..., na eterna leitura de uma guerra que não tem fim.Sérgio Sinotti - Editor