Sinopse
Trata-se de "uma história de amor entre três pessoas", que podia cair no banal triângulo amoroso, ou no ainda mais banal adultério, mas não. Tudo se passa entre um casal de actores Katie e Clive que se conhecem desde a infância; foram o rapaz/a rapariga da casa do lado. Clive escreve peças de teatro que Katie vai protagonizando e em que ele próprio também entra. E depois há Tom, um escritor de sucesso, ex-professor em Oxford. Todos tentam ter êxito nas suas artes. Subordinam-lhes as suas vidas, e não é possível distinguir onde começam umas e acabam as outras. "Era bom para o trabalho. Observar os outros. O rosto de uma pessoa quando pensa que está sozinha. Quando pensa que não está a ser olhada. Um gesto, uma expressão, um olhar, podiam ser reproduzidos mais tarde, num palco, e ganhar uma importância que nunca haviam tido. Era um pouco assim que compunha as suas personagens, pedaços de si própria, pedaços dos outros. E também era interessante ver a reacção de uma pessoa quando percebia que estava a ser seguida todas as noites" (pág. 43). Mas este processo pode ser perigoso: "Katie, que se transformava em tantas mulheres, Miranda, Stella, Hilde, Cecily, por vezes tinha medo de não ser ninguém. De ter escolhido aquela profissão para fugir ao vazio, à falta de identidade. Talvez com um escritor acontecesse o mesmo" (pág. 59). O entendimento entre as personagens assim o insinua. Katie procura seduzir Tom, com quem já tivera um caso quando era estudante, e que não se recorda dela. Vai então segui-lo pelas ruas escuras de Londres, pelas livrarias e jardins, suscitando encontros de olhares fortuitos que foram premeditados. Encena os gestos do relacionamento amoroso: "Eram actores profissionais e a paixão tornava-se fácil de representar. O mundo é um palco e eles tinham consciência disso. No fundo, muito no fundo, sentiam-se superiores ás outras pessoas. Porque eles sabiam que era só uma peça (pág. 13). Todas as hierarquias são invertidas, subvertidas, subordinadas à verdade de cada par de amantes: "Katie bebeu o chocolate lentamente. Não, nenhum deles criava algo para ficar. Estavam de passagem e não deixavam marcas. A única forma de serem eternos ( pág.27). Um estranho e paradoxal elogio do efémero.