Sinopse
Há uma linha mestra que norteia a narrativa fluida de Veja-me nu, um fio muito resistente que perpassa por todos os textos e personagens a vinculá-los na mesma premissa: vulnerabilidade é força. O livro se divide em quatro partes; começo, meio, fim e, outra vez, começo. Teria efeito similar se fossem nascer, crescer, morrer e renascer nos relacionamentos. Os protagonistas retratados, cada um ao seu modo, são levados a se despirem de seguras fantasias para encararem as próprias verdades na dança entre as forças feminina e masculina; às vezes mergulhadas no constrangimento da nudez pública e indesejada, mas sempre a transitar para a plenitude.Contos e prosasMeninos tristes sobrevivem na contraluz, nas coxias de uma vida teatralizada, em flerte constante e sutil com a morte precoce, que pode ser tragédia, e pode ser alívio nos dias em que os sorrisos precisam falsear um pouco mais para dissimular a tristeza profunda.Esse conto que inicia o livro se alinhava com a crônica alegre de um homem que aprendeu a gingar com a rosa e, junto dela, engravidou de um jeito absurdo de emprenhar. É o começo de tudo. Vida e morte se misturam no tecido a cumprir a missão de ensinar a viver.A linha de costura perpassa na confusão de um menino crescido que decide abandonar as máscaras que lhe sufocam para ir em busca da própria autenticidade. No meio da jornada ele descobre que é preciso mais do que coragem carnavalesca para se despir da fantasia de super-herói. Encara as suas verdades indigestas, teimosas atitudes, tão arraigadas em seus machismos e achismos. Ama sem saber direito como é que faz esse negócio de amar. Precisa mostrar o coração? Em dúvida, Frederico, personagem de Bispo e Rainha, prefere seguir o ilusório manual.No fim se sente saudade daquelas que se foge de sentir, pois é a morte quem maneja a agulha por ali. Aprende a chorar quem ainda não sabe. Há a filha um tanto aérea pela perda definitiva do alicerce paterno e há bilhetes escritos cheios de amor engasgado para quem não existe mais. A raiva se faz presente articulada em palavras doces. Mas, no fim, tudo vira semente. A raiva também se faz presente articulada em palavras adocicadas a ponto de parecerem amor e que, no fundo, são só tristeza mesmo; a velha tristeza.Ainda bem que toda a mistura de começo, meio e fim vira semente. A árvore se agiganta em raízes muito robustas. Sob a sombra que ela produz, um homem reconhece a força de sua vulnerabilidade enquanto escreve a história de um novo começo, ou melhor, costura.